segunda-feira, 4 de junho de 2012

A COMPLEXIDADE DO SIMPLES

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Guilherme de Ockham [ou Occam] foi frade, foi teólogo e foi filósofo no Século XIV. Já falámos dele e do seu princípio da parcimónia, mais conhecido por “Navalha de Occam”, sendo que a navalha é de barba. A teoria de Occam é explicada nos textos originais de forma prolixa e em latim, o que a torna supinamente indigesta. Por exemplo, entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem significa apenas ‘não complicar sem necessidade’. Resumindo e concluindo, em ciência deve-se procurar explicar as coisas da forma mais simples para chegar à verdade, ou aumentar as hipóteses disso acontecer.
E só na ciência? - pergunto eu. Está na cara que não, se excluirmos livros e filmes policiais. Todos devemos ter em conta o princípio da parcimónia quando fazemos juízos e tomamos decisões, seja a que respeito for. Daí a importância da “Navalha de Occam” no dia a dia. Quando surge um político com explicações muito elaboradas para justificar uma borrada qualquer, fiquemos de pé atrás: provavelmente o fulano não tem a “Navalha de Occam”, ou esqueceu-se dela, mete os pés pelas mãos e, quase de certeza, anda longe da verdade.
Mas Occam esqueceu-se, tanto quanto sei, que as coisas podem não ser tão fáceis como defendia. Einstein, génio inspirado que era, um dia falou assim: “As coisas devem ser tornadas o mais simples que for possível; mas não mais do que isso”. Voilá!
A pergunta é: o que é simples e o que é mais simples? A água que cai no cume do monte corre para o sopé da maneira mais simples – está certo. Teoricamente, qual é a maneira mais simples? É em linha recta num plano perpendicular ao solo, seguindo o caminho mais curto. Será? Talvez não! Se o terreno for acidentado, a forma mais simples da água correr é contornando os obstáculos, por um caminho muito mais longo. Voilá!
Portanto, simplificar é boa norma; mas não abusemos dela. Isto porque simplicidade é conceito relativo, como cada vez mais coisas parecem e acho que são. Definir o que é simples não é simples, ironicamente; ou é o menos simples, no meio de especulações sobre simplicidade. Como dizia algures o informático Kai Krause, não há nada mais complexo que a simplicidade. Está boa esta!
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