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Aprendemos com Charles Darwin que a nossa condição é
fruto duma luta interminável em que o forte vence o fraco e se reproduz,
enquanto os outros, em perigo, eventualmente desaparecem. Somos descendentes de antepassados que em tempos remotos se reproduziram com mais sucesso
que os seus competidores por serem mais fortes, ou mais aptos. É cruel a
natureza! Contudo, talvez seja mais correcto dizer que era cruel a natureza.
Não obstante os horrores a que ainda assistimos, com expoente em coisas como o
Estado Islâmico e o Boko Haram, chegámos a um estado da humanidade em que, em
grande parte do planeta, a evolução é condicionada não só pela competição, mas também pela cooperação,
mesmo altruísmo. Como diz Roger Highfield num ensaio intitulado The
Snuggle for Existence (não confundir com struggle), poucos se apercebem que um dos meios de subsistir—paradoxalmente—consiste,
não em "lutar contra", mas em "cooperar com", atitude assumida
feliz e inconscientemente na maior parte do mundo actual. Ir ao café de manhã
tomar um galão e comer uma torrada—é o exemplo de que se serve—é a nossa colaboração
para alimentar uma multidão em meia dúzia de nações, pelo menos.
A evolução de Darwin era fruto da mutação, que cria a
diversidade genética, e da selecção que escolhe os melhores genomas. Hoje, a
evolução humana é feita de mutação, de selecção e de cooperação, sendo muito
mais generosa para o homem, aparentemente. E digo aparentemente porque tal
generosidade criou outro problema: o desenvolvimento da agricultura, da
indústria e do comércio está a ameaçar conduzir à situação em que os recursos do planeta não chegam para
tanta gente; ou seja, o bem colectivo colide com o bem individual. É esse o
grande desafio do Homo sapiens, desafio
que não pode ser resolvido pela tecnologia. Inesperadamente, o problema só tem
solução no factor que o criou, a cooperação ela própria.
Acho que vamos lá—tenho
fé nisso, mesmo sem ser optimista.
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A imagem no cimo reproduz a pintura "O Bom Samaritano" do espanhol Tapiro y Baro.
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