Sobrestimar a extinção faz
cachas, mas é demagogia, tout court. Reduzir o conservacionismo biológico à
tutela das espécies em extinção é como reduzir a Medicina ao cuidado dos
moribundos. Muito mais importante é cuidar dos ecossistemas cuja saúde está
ameaçada por incontáveis razões, entre as quais se conta a própria depleção de
espécies necessárias ao equilíbrio ambiental.
Diz-se que estamos na
antecâmara da Sexta Extinção em Massa, depois das cinco históricas que
eliminaram 70% ou mais das espécies da época. Se todas as espécies ameaçadas actualmente
(23.214) desaparecerem nos próximos séculos e se a taxa de extinção se mantiver inalterada, pode acontecer que a Sexta Extinção venha aí. Mas com a atenção que o
problema merece actualmente, é pouco provável.
Mais que tratar de
espécies moribundas, é preciso cuidar das que ainda têm saúde, corrigindo factores
ecológicos—alguns consequência da actividade do Homo sapiens—que as podem ameaçar.
Por exemplo, há espécies em perigo vítimas de predadores, como ratos, cobras e
porcos, introduzidos pelo homem em ilhas e outros territórios onde quebraram o
equilíbrio biológico. O pagaio kakapo da Nova Zelândia, que nidifica no solo,
quase foi extinto pelos ratos que o homem levou para lá e comiam os ovos da ave. A desratização escrupulosa do
território salvou a espécie. Coisas assim estão a ser feitas com êxito por todo
o mundo, incluindo os oceanos. A regra é: espécie ameaçada num habitat, ou muda
de casa, ou se adapta, ou morre—não tem muita escolha. O homem pode fazer muito
por ela e está a fazer: mais do que se imagina. Infelizmente, ambientalistas,
conservacionistas e fadistas parecem-se muito: não arregaçam
as mangas e metem mãos à obra—só cantam. E cantam alto!
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