No "Observador" de hoje, lê-se um notícia que começa assim:
O ex-diretor geral da Administração de Infraestruturas
e Equipamentos (DGIE), do Ministério da Administração Interna (MAI), já foi
formalmente acusado pelo Ministério Público. João Alberto Correia é um dos 12
arguidos num processo por crimes de corrupção passiva corrupção ativa e
passiva, participação económica em negócio, branqueamento, abuso de poder e
falsificação de documento na “adjudicação de obras efetuadas em estruturas da
responsabilidade do MAI”, informou esta quinta-feira a Procuradoria Geral da
República. Os arguidos terão lesado o Estado em mais que 900 mil euros. [...]
Curiosamente, faz amanhã um ano
que publiquei aqui, n' "O Dolicocéfalo", um post sobre João AlbertoCorreia; e no "Textos do Dolicocéfalo" transcrevi um artigo de Paulo Pena que rezava assim:
João Alberto Correia é arquitecto, maçon,
professor e influente nos corredores da política governativa. O seu pai também
era. Também ele se chamava João. João Rosado Correia, o pai, que morreu em
2002, foi ministro do Equipamento Social do bloco central sob a liderança de
Mário Soares. E também viu o seu nome envolvido num escândalo. A 15 de Agosto
de 1987, dois anos após a sua saída do Governo, a sua foto aparecia na primeira
página do Expresso: “Ex-ministro trouxe dinheiros de Macau para o PS”. Rosado
Correia, revelava o Expresso, estava no aeroporto de Hong Kong quando foi
interceptado por António Vitorino, à época governante em Macau, que o intimou a
devolver três milhões de patacas (300 mil euros) que tinha em seu poder. A
partir daqui as versões divergem. Fonte próxima de Vitorino, citada pelo
Expresso, garantia que o dinheiro provinha de uma “extorsão” sobre empresários
macaenses.
Rosado Correia dizia que o dinheiro era fruto
de uma “colecta de fundos” de que fora encarregado pelo PS. E acusava Vitorino,
indirectamente, por ter impedido o dinheiro de chegar ao partido, na altura
presidido por Vítor Constâncio. Duas versões opostas e nunca esclarecidas. Até
porque o caso nunca foi alvo de nenhuma acusação. E João, pai, escapou a uma
acusação. Mas não voltaria à ribalta política.
João Alberto Correia, o filho, também
frequentou o Terreiro do Paço, mas apenas como director-geral de
Infra-Estruturas e Equipamentos do Ministério da Administração Interna. Também
ele acabou por sair, entre suspeitas.
Mas não se ficam por aqui as
coincidências. Nos nomes, nos episódios, na formação em arquitectura, no berço
alentejano, na militância socialista. E em algo mais misterioso.
João, pai, foi grão-mestre do Grande Oriente
Lusitano, o maior ramo maçónico português. O filho é membro de uma loja com
peso histórico, a 25 de Abril. A sua nomeação para o Ministério da
Administração Interna deve-se a outro maçon, também do GOL, Rui Pereira, na
altura ministro, que se orgulhava, numa entrevista à SIC, de nunca ter sido
“proposto ou nomeado para nenhum cargo por um maçom”.
A maçonaria é um ponto central na vida de João,
filho. Integrou o Conselho Editorial da Revista de Segurança e Defesa, tal como
consta do seu currículo, com um restrito grupo de maçons influentes, como
Ângelo Correia e o próprio António Vitorino, que há 18 anos acusara o seu pai.
Mas o ex-libris da família é a Fundação
Convento da Orada, fundada em 1988 — pouco depois do escândalo de Macau — por
João, pai, e presidida entre 2006 e 2008 por João, filho. Com sede em Monsaraz,
a fundação detém uma universidade, a Escola Superior Gallaecia, que funciona em
Vila Nova de Cerveira, e onde João, e vários familiares, integram o corpo
docente.
João Alberto Correia tem 49 anos, e é o mais
velho de seis irmãos. É doutorado em arquitectura pela Universidade de Salford, Reino
Unido. Ao contrário do pai, não assina com o título Professor Doutor
Arquitecto. Mas tem interesses muito variados, que não se resumem à
arquitectura.
Foi adjunto de Conde
Rodrigues, quando este ocupou a secretaria de Estado da Justiça. Integrou a
Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária. Ganhou um
concurso — também ele polémico — a que mais ninguém concorreu, quando João
Soares era presidente da Câmara de Lisboa. Graças a ele ficou com a concessão
do conhecido restaurante Eleven, no Parque Eduardo VII, que projectou e vendeu
a José Miguel Júdice e alguns amigos. O seu currículo encheu uma página do
Diário da República. Mas as suspeitas que sobre si recaem prometem encher
muitas mais, noutros periódicos.
Paulo Pena, com J.A.C
Já podem tirar os dedos do nariz, mas é aconselhável abrir a janela para renovar o ar.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário