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Helena Cristina Coelho
escreve hoje no "Diário Económico", a respeito de caso BES, o
seguinte:
[...] Concluir que a
supervisão foi ineficaz ou ineficiente no caso do BES não chega. O dramático
caso do BPN já tinha revelado as fraquezas da supervisão no país, pelo que este
último escândalo teve mais ou menos o mesmo efeito da chuva no molhado—com a
agravante de que gerou mais facturas para pagar. Por isso, tudo o que se fizer
a partir daqui terá, naturalmente, de ser diferente—para melhor. O modelo tem
de ser novo, as regras têm de ser mais apertadas, a credibilidade tem de ser
restaurada. E por mais bem-vindas que as propostas e recomendações dos
deputados sejam para que a supervisão realmente funcione, seria tão ou mais
importante que a justiça entrasse nesta novela. Se houve crime, há culpados. Se
há culpados, terá de haver castigo. E isso está nas mãos da justiça, não dos
deputados ou de um relatório que pode ajudar a contar a história, mas que não
conta para decidir como ela deve acabar. E qual o papel que cada um teve nesse
enredo.
A opinião da jornalista é
cristalina e irrefutável, mas não é original. Há muito que a preocupação dos
portugueses se foca no panorama de corrupção, tráfico de influências, nepotismo e outras
malfeitorias praticadas por políticos, banqueiros, empresários e ofícios correlativos, em enquadramento de completa impunidade—é o aparecimento súbito e inexplicável de patrimónios
inesperados; o crescimento em flecha da facturação de empresas que admitem políticos como administradores não executivos para logo os dispensar quando o partido em
que militam deixa de governar; são os familiares colocados em empresas públicas
e equivalentes com remunerações pingues; é a sorte que bafeja empreendimentos de
familiares e amigos; e um ror de trampa que só não vê quem não quer.
Naturalmente, tal
regime não se auto-regula, nem se auto-abstém de roubar. Tampouco se inibe com
a reputação popular de gatunagem porque não há vergonha—enquanto o roubo for
impune, a festa continua. Só o cárcere os pode parar.
Chegamos ao ponto de ver,
em lugares cimeiros da administração, gente a roubar quantias ao nível relativo
de pilha-galinhas. Lê-se o teor de algumas conversas telefónicas interceptadas
pelo Ministério Público, como as do Presidente do Instituto dos Registos e
Notariado, e fica-se estarrecido com o nível rasca que as coisas atingiram.
É aqui que o caso do Zezito pode
constituir um aviso à navegação. Não só do Zezito, mas de todos os que,
necessariamente, terão colaborado com ele nos crimes de que é suspeito. A
prisão de número significativo de meliantes exige volumosos recursos da Justiça, é verdade; mas é um bom investimento
pelo efeito dissuasor que tem com custos muito inferiores ao que se rouba hoje
em dia. Diz-se que o medo guarda a vinha e é verdade. Mas o Estabelecimento
Prisional de Évora também.
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