sexta-feira, 24 de abril de 2015

DORMIR AO PÉ COXINHO

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Frequento um ginásio onde o que mais há são investigadores científicos, não contando comigo, está bom de ver. O resto é só sumidades. Naturalmente, discutem-se problemas de nível elevado em matérias como Cosmologia, Teologia Prática, Física Quântica, Evolução Biológica e por aí fora; mas muito fora mesmo. É verdade!
Um dos problemas agora em análise por um grupo de trabalho de Biomecânica é porquê, e como, os flamingos repousam só num membro inferior durante horas, chegando a dormir assim, sem se cansarem e sem cair, mesmo quando têm pesadelos! Óh égua!
O eixo do corpo humano, que passa pelo centro de gravidade quando está em pé, não fica muito distante dos limites laterais do corpo, mas ainda assim é difícil mantermo-nos alguns minutos "ao pé coxinho". No flamingo, essa distância é relativamente muito maior (porque é mal feito, acho eu) e o bicho passa horas assim; já viram? E mais: não cai quando adormece!
A matéria é muito complexa e só alguns sábios do meu ginásio podem explicá-la bem e depressa, mas vou tentar reproduzir o que eles pensam. Em primeiro lugar a que se deve a fé do flamingo em descansar com um pé no bolso?
Há várias teorias, como sempre acontece quando não se conhece uma razão, mas dizem uns que é para secar o pé—já viu como fica macerada a sua pele quando se mantém de molho muito tempo na piscina? Pois o flamingo não quer pele encarquilhada e areja os pés alternadamente. Nesta não acredito—cheira a história martelada e não tem o aval dos investigadores meus companheiros do fitness.
Segundo a maioria, é um método de conservar o calor. Parece que se o flamingo estiver em águas aquecidas, mantém-se sobre os dois membros, como quase todos os animais que repousam em pé. Com o membro encolhido, além de não perder calor para a água, mantém menos sangue a circular longe da massa principal do corpo.
Mas por que arte consegue ele dormir assim, sem cair de cu? Um dos investigadores referidos, da Rua Augusto Pina, sabe que há animais, como os patos e os golfinhos que só adormecem metade do cérebro de cada vez, o que lhes permite controlar algumas funções com a parte que se mantém vígil (está boa esta!). Mas o flamingo quando dorme, dorme como deve ser—como um justo. Então, porque não cai?
Agora vou revelar um bocado do segredo porque não posso dizer tudo. A descoberta está ainda em segredo de justiça, perdão, em segredo científico para evitar plágios e essas trafulhices que os investigadores fazem (não os do meu ginásio!) e não deviam fazer.
Aquilo que o leitor pensa ser o joelho do flamingo, mais ou menos a meio do membro inferior, é o tornozelo, veja lá! O joelho está muito acima, escondido pelo corpo. E o dito tornozelo tem um sistema para bloquear, assim como o travão de mão do automóvel. O resto ainda é secreto e não posso revelar. Talvez haja outro truque na articulação do joelho, talvez isto, talvez aquilo, mas não posso dizer antes da revista Science aceitar o trabalho dos meus amigos do ginásio. Depois falamos.
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Nota —Já em tempos expliquei porque os passarinhos não caem do poleiro, ou dos fios, enquanto dormem: investigação também dos sábios do ginásio. Leia aqui.
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