quarta-feira, 29 de abril de 2015

VIVEMOS NO REINO DOS MICRÓBIOS

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Ontem, escrevia eu sobre os terráqueos humanos, convencidos de serem casos únicos no universo, verdadeira nata cósmica. Se excluirmos o Homo sapiens, tudo o resto será lixo e não conta, pensam. Em boa verdade, tal prosápia é uma bazófia infantil. 
Recentemente, o National Research Council, orgão operacional da National Academy of Sciences dos Estados Unidos, promoveu um encontro—The New Science Metagenomics—com o sugestivo título "Microbes Run the World" (Os Micróbios Governam o Mundo). Tal e qual. E não é bitaite!
Desde 2003 que o genoma das bactérias é estudado em escala nunca vista, revelando que proteínas podem sintetizar e, consequentemente, a abundância de funções possíveis daí decorrentes. Tal metagenómica revolucionou a microbiologia, com repercussões em toda a Biologia  nas próximas décadas.
As bactérias constituem 80% de todo o bioma, ou "massa viva" da Terra e, para se ter ideia do que isso significa, recorde-se que  um quinto duma colher de chá de água do mar tem 1 milhão de bactérias e 10 milhões de vírus. Como diz Craig Venter—pioneiro na investigação do genoma humano—quem não gosta de bactérias, está no planeta errado.
As bactérias têm papel na manutenção do nível de oxigénio da atmosfera e regulam várias funções do nosso corpo—o microbioma do intestino, boca, pele e outros órgãos conta com 3 mil espécies de bactérias, totalizando 3 milhões de genes diferentes (uma célula das nossas "governa-se" com 18 mil).
Do ponto de vista da evolução darwiniana, são um caso aparte. Enquanto nos seres pluricelulares a transmissão de genes mutantes, ou modificados, só se faz de uma geração para a seguinte—de forma "vertical"—nas bactérias pode fazer-se "horizontalmente"; isto é, um gene modificado pode passar a outras bactérias da mesma geração, "horizontalmente", o que significa efeito imediato da mutação num número significativo de seres. As bactérias trocam generosamente genes entre elas, numa antecipação muito antiga do que se faz hoje com os alimentos transgénicos, por exemplo. Em boa verdade, caminhamos talvez para uma situação de pangenoma, ou genoma universal, fruto da permuta—natural ou artificial—de genes. Está a natureza a fazer os genomas homogéneos? Parece. Se é verdade, fá-lo "inspirada" nos micróbios. A ser assim, não há dúvida que "os micróbios governam o mundo ("Microbes Run the World").
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