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Leio—porque não tenho robustez física para ouvir—que Cavaco Silva terá dito na AR ser a
corrupção um dos maiores inimigos das sociedades democráticas, com efeitos
extremamente graves no relacionamento entre os cidadãos e o Estado. E, logo a
seguir explicou porquê: porque "cria a falsa ideia de que a generalidade
dos agentes políticos, ou dos altos dirigentes da administração, não
desempenham as suas funções de forma transparente e essa falsa percepção alimenta
os populismos e abre a porta à demagogia".
Perante isto, sinto-me
esmorecer porque logo ao lado lê-se que—segundo o Ministério Público—entre
Julho de 2007 e Fevereiro de 2008, Joaquim Barroca, um dos administradores do
Grupo Lena, terá transferido 15,8 milhões de euros de contas pessoais para uma
conta de Carlos Santos Silva na Suíça e que, ainda de acordo com a mesma fonte,
este dinheiro tinha como destinatário final José Sócrates e seria uma
contrapartida pelos concursos ganhos pelo Grupo, num total de 200 milhões de
euros, durante os mandatos do ex-primeiro ministro. E, noutra coluna do mesmo jornal, leio que
durante anos um quadro do Banco de Portugal terá passado informações a um grupo
de pessoas que tinha montado um esquema de lavagem de dinheiro proveniente do
tráfico de droga.
Hoje já não leio mais jornais portugueses para não ficar
com a "falsa ideia que a generalidade dos agentes políticos ou dos altos
dirigentes da administração não desempenham as suas funções de forma
transparente".
Sabem o que acho? Anda todo o mundo a brincar ao faz de
conta. É muito mais fácil brincar ao faz de conta que enfrentar a realidade e
chamar os bois pelos nomes, não vá o pântano engoli-los.
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