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O texto publicado em baixo é uma carta à Directora do jornal "Público", publicada ontem.
Gostei e publico-a, com a devida vénia, porque mostra que ainda há quem saiba escrever e, sobretudo, com senso. Não sei se o autor é de esquerda ou direita, nem isso interessa. Interessa sim que é sensato.
Houve um tempo em que estivemos perto de construir um país novo, um Portugal diferente daquele que nos cercava e sufocava diariamente. Depois de 50 anos a viver iludidos e prisioneiros de uma realidade má, mesquinha, castradora, inglória e pobre, veio um tempo em que todos os sonhos eram possíveis. Um tempo em que um punhado de homens e mulheres nos serviram de bandeja, a todos nós, numa libertação única e festejada em todo o mundo, a possibilidade de um país novo. A maioria de nós nem queria acreditar. E fomos todos celebrar para a rua. De mãos dadas e sorrisos cúmplices. Uma festa como nunca se tinha visto. Os tempos eram difíceis, a Guerra Fria, as colónias que alguns não queriam perder, a pobreza que não desaparecia de um dia para o outro, as mortes deixadas pela guerra colonial, a reconciliação entre todos que era preciso fazer. Mas a sofreguidão foi mais forte do que o bom senso e a lucidez. Queria-se tudo novo já! Todos os direitos, prerrogativas e privilégios. Os governos, apesar da competência de quem os integrava, duravam meses. A política veio-se intrometer onde deveria haver somente solidariedade, bondade, justiça, equidade, compreensão, entreajuda. Com a política vieram os compromissos, os jogos de poder, as alianças oportunas, as cedências escusadas. E o povo foi sendo esquecido. E a festa acabou sem que um país novo estivesse diante de nós. E muitos ficaram tristes e desiludidos. E não houve força para teimar em que o velho país com os seus velhos hábitos não fosse devidamente enterrado. E assim se deitou por terra o esforço de todos os que, ao longo dos tempos, foram contribuindo para aquele dia de festa. E a festa acabou. Mas, por mais que todos os dias me sinta desiludido com o que leio ou vejo na imprensa, direi sempre, do fundo do coração (!), por respeito e homenagem aos homens e mulheres que souberam lutar por liberdade, pão, justiça e paz, direi sempre:
Viva o 25 de Abril!!
Pedro Carneiro
Ermesinde
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