A guerra é uma forma de destruição criativa. Afirmação
polémica esta, mas provavelmente verdadeira e aceite há séculos. Shiva, por
exemplo, Deus da guerra e da destruição, é uma das mais importantes divindades do
Hinduísmo. Não vou estender a massa, ou mastigar a conversa e tentarei explicar
sucintamente a ideia contida num artigo de Peter Turchin, publicado no AEON Magazine que pode ler aqui. (Chamo a atenção para os comentários, onde são postas dúvidas pertinentes, nomeadamente no que diz respeito à possibilidade actual de fazer a guerra com cada vez mais tecnologia e menos envolvimento humano).
Robert Michels, sociólogo alemão, lançou em 1911 o
princípio da "Lei de Ferro da Oligarquia", segundo o qual toda a
forma de organização social, seja democrática ou autocrática, evolui para
oligarquias. Michels estudou a evolução de partidos socialistas e associações de
trabalhadores cujos líderes acreditavam firmemente na igualdade e na democracia
mas que, com a crescente acumulação de poder, começavam a subverter o
procedimento democrático. O poder corrompe.
Nas últimas três ou quatro décadas, o fosso entre o 1%
dos ricos e os 99% do resto da sociedade foi sendo aprofundado nas democracias
ocidentais, cada vez mais desiludidas com o status
quo.
Contudo, esta tendência não pode decorrer sem interrupção
ao longo de séculos. Se tal tivesse acontecido nos últimos 5.000 anos, neste momento
estaríamos na fase de um Supremo Líder possuidor de todos os bens e de nós
possuidores de nada.
A correcção deste caminho é tarefa da guerra. A guerra
interna—sob a forma de levantamentos populares, por exemplo—pode temporariamente
inverter a tendência para a desigualdade, se as elites são apeadas; pelo menos
até surgiram outras novas. E
muitas sublevações não têm força para serem eficazes.
Os conflitos entre estados soberanos são outra coisa. A
desigualdade destrói a cooperação popular e a capacidade de mobilizar cidadãos
para uma luta de vida ou morte contra rivais externos. A relativa vantagem neste
aspecto dos estados mais igualitários é a forma como a democracia progride e se
espalha. Na antiga Grécia, a política democrática mobilizava enormes exércitos
de cidadãos-soldados capazes de derrotar as cidades-estado oligárquicas.
Por esta razão, talvez os veneradores de Shiva estejam
certos. Tal como na economia a concorrência liquida as empresas sem eficiência,
a competição internacional elimina os estados disfuncionais, incapazes de
manter a coesão interna necessária à sobrevivência. Nesta perspectiva, a guerra
será a agulha do caminho de ferro que põe o comboio a circular na via certa.
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