domingo, 4 de agosto de 2013

CANTO DO SARCASMO

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O debate da moção de confiança ao Governo, que se esperava um momento marcante na História Universal do Aborrecimento, foi surpreendentemente abrilhantado por António José Seguro, que a certa altura se aliviou da seguinte frase: "O melhor povo do mundo merece um melhor Governo." Mais surpreendente só a indiferença que a extraordinária frase mereceu por parte da generalidade dos comentadores, decerto tão habituados a ressonar durante as prelecções do dr. Seguro que jamais prestam atenção ao que o homem diz. [...]

[...] Mas a frase acima citada estabelece um novo paradigma da toleima. Por vários motivos.
O principal destes é, sem dúvida, o delírio demagógico. O dr. Seguro tem mesmo conhecimento de que os portugueses são o "melhor povo do mundo"? Se sim, onde recolheu a informação? No Relatório Anual Sobre os Povos Altivos (o RASPA, claro), promovido e editado talvez pela ONU? Não conheço. Pelo contrário, se, conforme parece, a informação carece de fundamento científico e é apenas a caricatura de uma ideia que prosperou na cabecinha do dr. Seguro, convinha que o candidato a primeiro-ministro esclarecesse a Terra acerca dos povos que, obviamente abaixo do nosso, considera escapatórios, toleráveis, fraquinhos, reles e dignos de extermínio.
Julgo que tal não acontecerá. Ciente da desatenção alheia ou, o que é pior, convicto da própria sabedoria, o dr. Seguro continuará a emitir disparates que os seus conselheiros supõem eleitoralmente eficazes. Não há por aquelas bandas vestígio de seriedade, raciocínio ou contenção: há uma pressa desmedida em substituir Pedro Passos Coelho antes que as dissidências socialistas o substituam a ele.  [...]

[...] Um dos licenciados mais rápidos do País (Miguel Relvas) é o novo alto comissário da Casa Olímpica da Língua Portuguesa, uma "organização cívica" criada no Rio de Janeiro que "pretende divulgar a cultura dos vários países de língua portuguesa".
...falar de cultura é falar do dr. Relvas, que um dia presidiu com galhardia a um rancho folclórico. [...]
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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