Em 1970, o arqueólogo Peter Bogucki, realizando escavações na Polónia em áreas habitadas na Idade da Pedra, encontrou peças de cerâmica, de há mais de 7.000 anos, com pequenos orifícios que sugeriam terem sido usadas como coadores.
Em 2011, Mélanie Roffet-Salque, geoquímica da
Universidade de Bristol, comprovou a presença de resíduos de gordura do leite
em peças semelhantes. Parecia evidente que tal louça fora usada para fabricar
queijo.
E porque faziam os pastores de então, depois de
abandonarem a actividade de caçadores recolectores e se dedicarem à
agro-pecuária, derivados do leite—queijo e iogurte—e não o bebiam simplesmente?
Era uma questão do foro da gastronomia? Não era!
Naquela época, os adultos, ao contrária das crianças, não tinham lactase, enzima necessária para a
digestão da lactose (açúcar do leite), tóxica para eles. Então,
descobriram que a fermentação reduzia muito a quantidade de lactose, tornando o
leite digerível—tudo empiricamente, está bom de ver!
Curiosamente, alguns milhares da anos mais tarde, ocorreu
uma mutação genética que deu ao homem adulto o privilégio de digerir a lactose. Tal
mutação, por selecção natural, espalhou-se pela Europa, permitindo ao homem—e à
mulher—transformarem-se nos grandes mamões actuais, os únicos mamíferos
que bebem leite toda a vida, ainda por cima de muitas outras espécies assim
parasitadas por eles, ou por nós, porque também eu ainda "mamo".
Mas a falta de lactase foi uma bênção para o "antropitecus"
do Século XXI: não fora ela, talvez não
tivéssemos agora o queijinho da Serra, de Azeitão, da Ilha, blá, blá, blá—uma
verdadeira tragédia em que é bom nem pensar!
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