A evolução de Darwin ocorria na base de mutações e da
sobrevivência dos mutantes mais aptos. Tal sobrevivência tinha implícita a capacidade
de resistir à hostilidade de outros seres vivos—à predação, fundamentalmente—e
à hostilidade do meio. Dependia, em última análise, do fitness individual no
struggle for existence.
Mostra a experiência que as coisas se modificaram alguma
coisa, pelo menos no que toca à espécie
humana. As boas práticas sociais aliviaram de algum modo a pressão da
hostilidade do meio, nomeadamente por efeito das sensibilidade cristã, e hoje a
sobrevivência dos menos aptos está mais fácil. Se usarmos a terminologia
anglo-saxónica, o struggle (lutar) foi substituído pelo snuggle (≈ aninhar)
dos menos aptos. É também resultado da organização da sociedade, com repartição
de tarefas—em que cada um é chamado a colaborar de acordo com a sua aptidão—sem
que tal implique, pelo menos em teoria, tratamento diferente dos mais aptos.
Mas há outro aspecto decisivo—o da inteligência e do
fitness colectivo. Actualmente, os actos mais simples envolvem cooperação
inimaginável para o menos atento. O pequeno almoço tomado num café, pastelaria,
leitaria, mesmo em casa, representa um acto
de cooperação com uma multidão espalhada por todo o mundo—desde o café da
Colômbia, ao açúcar de Cuba, ao trigo da Ucrânia, ao milho do Canadá, rebabá.
Ao contrário do que por vezes se diz, o mundo vai melhorando
à medida que envelhece. Falo em envelhecer porque a vida na Terra estará a meio
do seu trajecto (tem pouco mais de 4 mil milhões de anos). O eventual pessimismo reinante aqui
e ali é louvável e produtivo. Significa que o homem tem noção de como devem as coisas ser—mais justas e fraternas—e está desgostoso por ainda não se ter
atingido estado mais diferenciado.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário