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Especialmente por razões
históricas e sociológicas, o inglês começou a ser muito usado na ciência há
cerca de um século. De tal modo que, em 1980, cerca de 80% das publicações científicas eram feitas
em inglês e actualmente tal percentagem anda pelos 99%. De supetão, a ciência, tornou-se
"monoglota", completamente anglófona. A que se deve tal fenómeno?
Naturalmente, ao facto de o
inglês ser a língua da América, do Canadá, do Reino Unido, da Austrália e de
numerosos outros países, ex-colónias da Inglaterra. Afinal o fenómeno não é
exclusivo da ciência, acontecendo o mesmo no comércio, na indústria, na política,
no turismo, etc. Mostra-me a experiência que em qualquer país do
mundo, quando abordo um cidadão indígena, a reacção dele é sempre tentar explicar-se
em inglês, sem saber de que terra sou—é um instinto novo do homem moderno, sem
dúvida. Nalguns navios de cruzeiro, já tenho falado inglês com brasileiros, e até
portugueses, antes de percebermos que falamos os dois como Camões, embora não
tão bem.
Falo disto porque li hoje
um artigo na "AEON Magazine" online, escrito por um senhor chamado Michael
Gordin, historiador de ciência contemporânea da Universidade de Princeton e
autor dum livro a publicar em breve, chamado "Scientific Babel".
Gordin considera apenas razões
históricas para explicar o fenómeno do "monoglotismo" científico actual.
Debaixo da minha esmagadora ignorância, suspeito que a História, a Sociologia, a Economia e coisas assim
não explicam o fenómeno completamente. Opino que é necessário considerar a
funcionalidade da língua, ou seja, a eficiência. Não é por acaso que o
ensino se faz em numerosos centros de vários países—Portugal incluído—em
inglês. Dir-me-ão que isso é consequência do conhecimento universal do inglês.
Será, mas não só. Quem tem experiência de estudar matéria científica escrita em
inglês, percebe o que digo. De tal modo que, mesmo quando falando português, há
tendência para usar termos ingleses, como stress, life-saving, sunscreen, airborne dermatitis, rebabá. O inglês é a
língua que permite introduzir mais ideias em menos palavras, penso. Daí o
seu sucesso no ensino, na comunicação científica e no raciocínio. Não estarei
cá para ver, mas prevejo que daqui a 50 anos será usado em quase todo o mundo
avançado como língua paralela à língua nativa.
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