terça-feira, 9 de abril de 2019

HÁ PERNAS E PERNA

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[…] João Perna não era um mero motorista. Para além de ter de levar Sócrates a restaurantes caros em ruas onde é difícil estacionar, ouvir a música de que Sócrates gosta, ir fazer recados à multi-milionária-só-que-não mãe de Sócrates e aguardar em quatro piscas à frente de hotéis para que o chefe terminasse faustosos pequenos-almoços onde doutrinaria opinion-makers, João Perna também serviria de intermediário do dinheiro que pagava as despesas de Sócrates. Não só através de gordos envelopes, como também através da sua própria conta bancária. Por essa razão, está agora acusado de branqueamento de capitais. Pois, João. É desagradável branquear capitais que não são nossos - acaba por ser uma opção pouco inteligente, um crime nada recompensador. Mas João Perna nada fica a dever a toda uma intelligentsia que, ao longo de muitos anos, se rendeu, sempre solícita, ao charme de Sócrates sem fazer perguntas. João Perna terá ficado com dores na coluna por tantos anos dentro de um carro, mas não a terá dobrado tanto como vários que as assinavam, bem dobradinhas, em páginas de jornais.
No vídeo capturado por câmara oculta que a CMTV revelou ontem, João Perna, hoje na penúria, revela que às vezes ficava com dívidas em nome de Sócrates no quiosque, porque ele não lhe dava dinheiro para pagar os jornais. Tenho toda a compaixão com a situação de Perna. É possível que o patrão nem gostasse de pagar jornais, dá a sensação de que preferia gastar o seu dinheiro a comprar quem lá escrevia. 
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Manuel Cardoso in SAPO.PT
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