quarta-feira, 28 de março de 2012

OS PARTOS GEMELARES DA CIÊNCIA

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A melhor maneira de saber que tempo vai fazer amanhã é esperar 24 horas e ver. Sarcasmo com a ciência? Seguramente, mas uma grande verdade. A ciência de tão endeusada que é, perdeu o sentido de humor e não gosta de ditos jocosos. Na realidade, há nela muita coisa inesperada.
Sabia que Alexander Graham Bell e Elisa Gray apresentaram o pedido de registo da patente do telefone no mesmo dia? E que a Teoria da Evolução foi desenvolvida simultânea e independentemente por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace? Isto só para referir duas coisas muito conhecidas. Mas, se escavarmos na história da ciência, sobre coisas que nem sabemos bem o que são, é um espanto! A Geometria Hiperbólica (!) foi desenvolvida ao mesmo tempo e separadamente pelo matemático húngaro János Bolyai e pelo russo NickolaiLobachevsky; a fita de Möbius, do matemático alemão August Möbius, foi criada ao mesmo tempo por ele e por outro alemão, Johann Benedict  Listing; a descoberta do processo electrolítico de refinar o alumínio foi feita simultaneamente pelo americano Charles Martin Hall e pelo francês Paul Héroult; blá, blá, blá...
Os cientistas e investigadores são todos boa gente, de primeira ou primeiríssima água; mas também são todos uns grandes sacanas. O físico canadiano William Osler costumava dizer que o crédito de uma ideia vai para o homem ou mulher que convenceu o mundo e não para quem teve a ideia. É verdade! Tal e qual!
Tive oportunidade de ver isso ao longo de 40 anos de actividade profissional. Ninguém imagina o que são os bastidores das revistas científicas, especialmente das mais credenciadas. O golpe baixo, a jogada rasca de antecipação, o trabalho aldrabado, o plágio até, são o “pão nosso de cada dia”. O mundo nunca esquecerá o Professor Benveniste, defensor da homeopatia, com o trabalho sobre a “memória da água”, publicado na impoluta revista “Nature” e a que penso já me referi aqui.
Mas o que queria dizer hoje não era só má língua, embora esta também tenha cabimento nos antros científicos. Pensava eu, antes de descarrilar e começar a bater, não nos ceguinhos, mas naqueles que vêem mais que os outros, em falar porque acontece isto das descobertas simultâneas. Mark Twain, quando interrogado porque ocorrem tantas invenções simultâneas e independentes, dizia: “Quando é tempo para o navio a vapor, você viaja em navio a vapor”. Referia-se Twain ao facto da pressão do vapor de água já ser usada por Hero de Alexandria, há mais de 2.000 anos, e só ter sido aplicada na prática industrial no Século XVIII. As descobertas simultâneas, provavelmente entre mais razões, devem-se a duas circunstâncias:
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1 - O estado de amadurecimento global da ciência no momento, que ao criar o potencial intelectual para a invenção, dá fatalmente origem ao parto desta, muitas vezes parto gemelar.
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2 - A pressão da necessidade social, política, filosófica e até religiosa. Não é por acaso que muitas grandes invenções surgiram durante guerras ferozes e duradouras. Quando a pressão é muita, como acontece com a procriação assistida, os gémeos são mais prováveis.
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Mas é bom que haja muita gente a inventar a mesma coisa e ao mesmo tempo. Significa isso que a invenção é óptima e exequível. E que vai ser mais fácil receber o acolhimento do mundo.

(Em cima a Fita de Möbius. Se não conhece, dê a volta sobre uma das faces e verá que muda de lado sem passar no bordo)
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