sexta-feira, 30 de março de 2012

PRAGMAMORFISMO



Pragma é grego e significa objecto. Diz quem sabe que objecto é exterior ao espírito; como a bola que ontem foi chutada para dentro da baliza dos lagartos, embora tal objecto tenha feito mal a muitos espíritos; espíritos que, por definição, não podem ser verdes porque só os objectos têm cor. Ipso facto, os lagartos têm cor, mas o espírito deles é incolor. Pensando bem, talvez nem incolor seja. Ou será? Uma trapalhada!... Não interessam os lagartos... Adiante.
Vem isto a propósito de pragmamorfismo, matéria com um nome que a faz parecer complicada, mas não é, e de que gosto muito. Comecemos por falar de antropomorfismo, ou seja, a prática de atribuir qualidades humanas aos objectos e animais. Por exemplo, essa coisa de falar da personalidade de um automóvel, da inspiração dos canários, ou da paixão das vacas pelos pastos dos Açores, segundo Cavaco Silva. É burrice, mas faz toilette no discurso, é bengala oratória, e serve para épater le bourgeois.
Pragmamorfismo é exactamente o oposto, ou seja, a prática de atribuir ao homem propriedades dos objectos animados e inanimados não humanos. É a expressão banal de que Arménio é calhau, ou Seguro um asno. Mas essas são matérias de mau gosto e neste espaço cultiva-se a fina flor do bom gosto (!). Consequentemente, lavra-se noutro campo mais elevado!
Por exemplo, a imagiologia cerebral para estudar a actividade psíquica. Estamos a usar - nós, a humanidade, porque eu e os meus leitores não usamos nada – a tomografia por emissão de positrões para obter imagens em três dimensões da actividade psíquica no cérebro. Consequentemente, não tarda, temos a configuração espacial do medo, a cor da fé religiosa, e o perfil cerebral da inspiração artística. Digo não tarda porque a configuração da tendência para o tabagismo, o alcoolismo a obesidade e a dependência da cocaína já aí estão numa figura ao lado. O que é isto se não o pragmamorfismo na sua quinta-essência? O psíquico a cores e em três dimensões!
Porque tenho a idade dele, sou como o velho do Restelo. Não fico deslumbrado com os progressos no estudo da mente humana e nem sequer sei se valem a pena, ou servem para alguma coisa. Com tais conhecimentos e o apoio de boa Farmacologia, um dia destes todos são simultaneamente como Einstein, Brahms, van Gogh e Eça – uma monotonia! O que é de mais também farta.
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