Pragma é grego e significa objecto. Diz quem sabe que objecto
é exterior ao espírito; como a bola que ontem foi chutada para dentro da baliza
dos lagartos, embora tal objecto tenha feito mal a muitos espíritos; espíritos
que, por definição, não podem ser verdes porque só os objectos têm cor. Ipso
facto, os lagartos têm cor, mas o espírito deles é incolor. Pensando bem, talvez
nem incolor seja. Ou será? Uma trapalhada!... Não interessam os lagartos... Adiante.
Vem isto a propósito de pragmamorfismo, matéria com um nome
que a faz parecer complicada, mas não é, e de que gosto muito. Comecemos por
falar de antropomorfismo, ou seja, a prática de atribuir qualidades humanas aos
objectos e animais. Por exemplo, essa coisa de falar da personalidade de um
automóvel, da inspiração dos canários, ou da paixão das vacas pelos pastos dos
Açores, segundo Cavaco Silva. É burrice, mas faz toilette no discurso, é
bengala oratória, e serve para épater le bourgeois.
Pragmamorfismo é exactamente o oposto, ou seja, a prática
de atribuir ao homem propriedades dos objectos animados e inanimados não humanos.
É a expressão banal de que Arménio é calhau, ou Seguro um asno. Mas essas
são matérias de mau gosto e neste espaço cultiva-se a fina flor do bom gosto (!).
Consequentemente, lavra-se noutro campo mais elevado!
Por exemplo, a imagiologia cerebral para estudar a
actividade psíquica. Estamos a usar - nós, a humanidade, porque eu e os meus
leitores não usamos nada – a tomografia por emissão de positrões para obter
imagens em três dimensões da actividade psíquica no cérebro. Consequentemente,
não tarda, temos a configuração espacial do medo, a cor da fé religiosa, e o
perfil cerebral da inspiração artística. Digo não tarda porque a configuração
da tendência para o tabagismo, o alcoolismo a obesidade e a dependência da cocaína já aí estão numa figura ao lado. O que é isto se
não o pragmamorfismo na sua quinta-essência? O psíquico a cores e em três dimensões!
Porque tenho a idade dele, sou como o velho do Restelo.
Não fico deslumbrado com os progressos no estudo da mente humana e nem sequer
sei se valem a pena, ou servem para alguma coisa. Com tais conhecimentos e o
apoio de boa Farmacologia, um dia destes todos são simultaneamente como Einstein,
Brahms, van Gogh e Eça – uma monotonia! O que é de mais também farta.
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