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Charles Sanders Peirce, num dia de inspiração, disse esta
coisa: “Os factos não podem ser explicados por hipóteses mais extraordinárias
que eles próprios; e, de todas as hipóteses possíveis, deve escolher-se sempre a
menos extraordinária.” Ganda Peirce,
estou contigo! É o Princípio da Melhor Explicação, chamemos-lhe assim, porque
com as maiúsculas fica muito mais respeitável. E quero acrescentar que, apesar
de usar tom jocoso, acho o Princípio de Peirce fundamental em qualquer vida.
Do simples para o complicado. São 7 horas da tarde, a mulher está
em casa e ouve alguém abrir a porta e entrar. Que pensa a mulher? Um milhão, oitocentos
e trinta e cinco mil, duzentos e quarenta e seis pensamentos são possíveis. Que
digo eu?!!!... Muitos mais!!!... Por exemplo, são almas do outro mundo; ou, é o
Professor Cavaco que vem visitar-me; ou, é a mulher a dias que quer pôr-me a
par do divórcio; ou, é o Zézito que chegou de Paris e vem pedir-me dinheiro
emprestado; ou, é o meu marido que regressa do trabalho; ou, blá, blá, blá.
Naturalmente que está mesmo a ver-se qual é a hipótese menos extraordinária,
embora a do Zézito possa ter alguma verosimilhança.
No dia a dia, todos sabem aplicar muito bem a Teoria de
Peirce. Ou melhor, quase todos. Mas há coisas em que a aplicação não é tão
fácil. Imaginemo-nos em 1969, quando o homem foi a primeira vez à Lua. Um
fulano regressado da selva, onde andou a missionar durante anos sem ouvir falar
da NASA, chega a casa e encontra a família a ver na TV a transmissão da
alunagem. Pergunta o que é aquilo e, à resposta de que é o homem a chegar à
Lua, sente-se gozado. A explicação neste caso é a mais, e não a menos, extraordinária.
Para ele, provavelmente, aquilo passa-se num estúdio de Hollywood – afinal, tudo
é relativo e o missionário não gosta de chacota.
Mas a dificuldade da Teoria de Pierce é ainda maior nos
tempos que correm com essa coisa da Física Teórica, e era aqui que queria
chegar. Ouvimos falar de quarks, de leptões, de bosões, da partícula de Deus, e
simultaneamente de Higgs, do gravitão, da Teoria das CORDAS (!!!!!!!!) que não
são de violino, e por aí fora. Ninguém vê as partículas, nem as forças, nem as
cordas - há uns janotas a trabalhar em aceleradores de partículas que escaqueiram
protões, dizem eles, e percebem o que está nos cacos daquela cangalhada: que
são hadrões, leptões, quarks, bosões, blá, blá, blá. Para eles, a explicação é
a menos extraordinária. Mas, e eu?! Para mim, é a mais extraordinária! Isto é,
não posso ser como S.Tomé: tenho que acreditar sem ver! Anda cá abaixo Peirce e
vem dar uma ajuda ao pessoal que não estudou Física Teórica. E tu, que também
eras físico, diz-nos se estão a meter-nos os pés no bolso. Embora receie que a
tua Física já esteja um nadinha démodé.
quinta-feira, 29 de março de 2012
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