[...] Rumores indicam que as promoções do Pingo Doce não ficarão por aqui. Os supermercados rivais ameaçam reagir à altura. A 2 de Maio, o Ikea aplicou o desconto de 50% em 300 artigos. A Ryanair inspira-se na campanha da Jerónimo Martins para publicitar os seus saldos permanentes. E até os preços dos combustíveis exibem vestígios de queda (infelizmente, em percentagem bastante inferior). Onde é que isto vai parar? Um dos raros prazeres inerentes às crises é a possibilidade de nos queixarmos com razão de que a vida está pela hora da morte. Se a moda pega e os preços desatam a cair proporcionalmente à subida dos impostos, as queixas perdem fundamento e graça.
Claro que podemos
imitar os sindicatos, os produtores, os fornecedores, os fabulosos técnicos da
ASAE e a excelentíssima ministra da Agricultura e queixarmo-nos dos preços
baixos, ou dumping em jargão socialista. Mas, não sei porquê, não soa tão bem.
Se, por exemplo, desembolsar dez ou quinze euros por um bilhete de avião representa
uma humilhação do consumidor, à semelhança do que se disse a propósito dos
saldos do Pingo Doce, julgo que, de modo geral, o consumidor incauto prefere
ser simbolicamente humilhado por capitalistas gananciosos a materialmente
roubado por um Estado paternal. [...]
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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