domingo, 13 de maio de 2012

VAMOS RECUPERAR DE BABEL

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A senhora que vemos aí em cima chama-se Gyani Maiya Sen, tem 75 anos e pertence a uma tribo do Nepal Ocidental. E porque aparece ela aqui? Aparece porque é a única pessoa no planeta que fala fluentemente a língua kusunda. Há ainda umas 100 pessoas da mesma tribo, mas só conhecem algumas palavras e não são capazes de ter um discurso minimamente elaborado e compreensível para ela. A senhora Sen carrega a cruz de poder levar com ela a língua para o túmulo e é ajudada a evitá-lo por linguistas que a assediam em permanência.
Há cerca de 6.000 línguas conhecidas no mundo, em perto de vinte famílias linguísticas, mas a língua da senhora Sen não pertence a nenhuma delas, caso único. Talvez por isso haja tanto interesse em conservar o kusunda.  A “Foundation for Endangered Languages” estima que entre 500 e 1.000 línguas são faladas apenas por grupos muito restritos de pessoas e que cada ano desaparecem à volta de 25 delas.
Chegados aqui, pergunta-se: vale a pena investir muito na conservação de tais fósseis? Teoricamente, é claro que sim. A língua não é só meio de comunicação: é também um depósito de informação sobre cultura e história, que se perde quando se extingue – todos sabem isso. Mas uma coisa é nunca mais ninguém conseguir perceber a linguagem escrita e falada que se extingue, e outra ser essa extinção acompanhada de meios que permitam entender o que diziam e escreviam os respectivos povos. Para melhor me explicar, recordo a trapalhada que foi decifrar os documentos egípcios, ou fenícios e por aí fora. Tal nunca mais deve acontecer e, com os recursos informáticos actuais, é fácil evitar tal coisa.
Assim sendo, acho um investimento redundante fazer esforços ciclópicos para manter vivas línguas que, na maior parte dos casos, não prestam funcionalmente e até é bom que as pessoas deixem de as falar. Exprimir-se um cidadão em tétum de Timor, por exemplo, é limitativo para o pensamento. Se para os timorenses passarem a falar português é necessário deixarem de falar tétum, então acabe-se com ele, depois de o meter num frasco com formol e um livro de instruções ao lado.
Afinal, está a acontecer o que parece mais razoável, ou seja cada vez mais gente a usar número restrito de línguas. Até a Bíblia considera esta coisa de muitas línguas um castigo divino, imposto para limitar a iniciativa humana. Talvez em Babel a iniciativa tenha sido demasiado ambiciosa e provocatória. Mas agora já se foi à Lua e andam sondas por Saturno e outros sítios exóticos e ainda não veio nenhum aviso divino para parar com isso. Portanto, vamos tentar recuperar da desgraça de Babel.
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