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A senhora que vemos
aí em cima chama-se Gyani Maiya Sen, tem 75 anos e pertence a uma tribo do
Nepal Ocidental. E porque aparece ela aqui? Aparece porque é a única pessoa no
planeta que fala fluentemente a língua kusunda. Há ainda umas 100 pessoas da
mesma tribo, mas só conhecem algumas palavras e não são capazes de ter um
discurso minimamente elaborado e compreensível para ela. A senhora Sen carrega
a cruz de poder levar com ela a língua para o túmulo e é ajudada a evitá-lo por
linguistas que a assediam em permanência.Há cerca de 6.000 línguas conhecidas no mundo, em perto de vinte famílias linguísticas, mas a língua da senhora Sen não pertence a nenhuma delas, caso único. Talvez por isso haja tanto interesse em conservar o kusunda. A “Foundation for Endangered Languages” estima que entre 500 e 1.000 línguas são faladas apenas por grupos muito restritos de pessoas e que cada ano desaparecem à volta de 25 delas.
Chegados aqui,
pergunta-se: vale a pena investir muito na conservação de tais fósseis?
Teoricamente, é claro que sim. A língua não é só meio de comunicação: é também
um depósito de informação sobre cultura e história, que se perde quando se
extingue – todos sabem isso. Mas uma coisa é nunca mais ninguém conseguir
perceber a linguagem escrita e falada que se extingue, e outra ser essa
extinção acompanhada de meios que permitam entender o que diziam e escreviam os
respectivos povos. Para melhor me explicar, recordo a trapalhada que foi
decifrar os documentos egípcios, ou fenícios e por aí fora. Tal nunca mais deve
acontecer e, com os recursos informáticos actuais, é fácil evitar tal coisa.
Assim sendo, acho
um investimento redundante fazer esforços ciclópicos para manter vivas línguas
que, na maior parte dos casos, não prestam funcionalmente e até é bom que as
pessoas deixem de as falar. Exprimir-se um cidadão em tétum de Timor, por exemplo,
é limitativo para o pensamento. Se para os timorenses passarem a falar
português é necessário deixarem de falar tétum, então acabe-se com ele,
depois de o meter num frasco com formol e um livro de instruções ao lado.
Afinal, está a acontecer
o que parece mais razoável, ou seja cada vez mais gente a usar número restrito
de línguas. Até a Bíblia considera esta coisa de muitas línguas um castigo
divino, imposto para limitar a iniciativa humana. Talvez em Babel a iniciativa
tenha sido demasiado ambiciosa e provocatória. Mas agora já se foi à Lua e andam
sondas por Saturno e outros sítios exóticos e ainda não veio nenhum aviso
divino para parar com isso. Portanto, vamos tentar recuperar da desgraça de
Babel.
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