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Também já aqui falei disso a respeito do eventual início
do universo. Se este não é eterno e infinito, tempos houve em que não havia, ou
havia outra forma. No Génesis lê-se: "No princípio Deus criou o céu e a
terra; e a terra era sem forma e vazia e havia trevas sobre a face do abismo e
o Espírito de Deus movia-se sobre a face das águas". Para mim não fica
claro se, teologicamente, houve o nada. Não consigo perceber se antes do
Génesis havia uma forma diferente.
Para Macbeth, nada era apenas o que não é; os dicionários
ficam-se por vaguidades como "nada é uma coisa que não existe";
Parmenides achava impossível falar do que não existe porque viola o próprio
princípio do que é; e o povão acha que nada é melhor que um bom copo de três e
nada é pior que uma pedra no sapato. Portanto, se há tanta opinião sobre uma
coisa, ela devia existir. Contudo, não existe porque é essa a sua natureza—não
existir.
Espantosamente, sendo nada um mistério, é também um
conceito óbvio e toda a gente sabe o que é e acredita nele. Cuidado, portanto,
ao falar dele com gente que o conhece—corre-se o risco de ser tomado por insano!
É o que deve acontecer-me quando alguém lê esta prosa. Mas, mesmo assim, pense
nisso.
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