Miguel Sousa Tavares, em minha modesta opinião, é um
jornalista com a virtude de dar uma no cravo e outra na ferradura. Digo virtude
porque só há dois tipos de jornalistas: os que nunca acertam no cravo e os que
acertam às vezes, sendo os primeiros largamente dominantes—sobretudo os
politicamente correctos e "Charlie"
incondicionais.
Hoje, Miguel escreve assim no "Expresso" sobre
a chamada "lista Vip":
[...] Mas então, perguntarão os demagogos armados em
falsos ingénuos, se são todos iguais perante a lei como é que alguns têm
direito a protecção do segredo e outros não? Resposta: justamente porque todos
devem ser iguais perante a lei. E, se nenhum funcionário das Finanças ou
qualquer jornalista do “Correio da Manhã” está interessado em saber qual a
situação fiscal do Zé dos Anzóis, imaginem o sem-fim de possibilidades que se
abrem ao “jornalismo de investigação” ou à simples tentação de devassa alheia,
se, em vez do Zé dos Anzóis, se tratar de um ministro ou qualquer outra figura
mediática! Porém, sucede que a Constituição não diz que todos têm direito à sua
privacidade, menos as figuras públicas: diz “todos”—e “todos” são
todos, sem excepção alguma. É justamente, porque—e isto, sim, é que é
intolerável—qualquer funcionário das Finanças pode aceder aos dados de
qualquer contribuinte (mas só os dados de alguns é que despertam interesse e
podem até ter valor comercial no mercado do jornalismo de sarjeta), que, se não
existe, devia existir a tal “lista VIP”. A expressão é infeliz, mas a
finalidade é clara: garantir que não existem contribuintes que, por serem
“mediáticos”, perdem o direito ao sigilo fiscal. Eu sou a favor da “lista VIP”.
[...]
A prosa é cristalina e—para quem não é mentecapto—indiscutível.
Fazer da "lista Vip" um caso de Estado é a montanha a dar à luz um
ratinho.
.
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