O jornal SOL publica hoje o que diz ser uma conversa telefónica interceptada pelos investigadores do processo Face Oculta, a 6 de Agosto de 2009, já depois de Armando Vara saber que estava a ser escutado. A linguagem, aparentemente, é cifrada e é assim:
6 de Agosto de 2009: o primeiro-ministro estava de férias em Espanha, na ilha Menorca. Às 11h46, Armando Vara recebe um telefonema de um indivíduo com sotaque brasileiro, que se identifica como ‘Carlos’ e lhe diz que tem ali «uma pessoa que lhe quer falar».
Vara não quer conversas por aquele número e pergunta-lhe se não tem outro telefone, ao que Carlos responde que sim, mas que «está no quarto».
Dois minutos depois, é Vara quem liga. Carlos atende e passa o telefone ao primeiro-ministro. Sócrates diz a Armando Vara que «aqueles exames médicos, que eram para ser feitos no dia 1, não se fizeram», ele que veja «com a clínica».
Armando Vara mostra-se aborrecido e diz que lhe tinham confirmado tudo. Sócrates comenta que «aquela gente é assim» e Vara aponta o responsável: «É o Rui… e agora teve bebé…» [referência a Rui Pedro Soares, administrador executivo da PT e vogal da Tagusparque].
O vice-presidente do BCP promete que vai ligar a Rui Pedro Soares e que já lhe diz «alguma coisa». Sócrates pergunta «se ele percebeu aquilo que ele quis dizer» e Vara confirma que já entendeu: «não aconteceu nada» do que estava previsto. Sócrates insiste: «não aconteceu nada» e Vara «tinha dito que os exames…». Este reafirma «que lhe disseram que sim, que estivesse descansado»…
O primeiro-ministro pergunta então, referindo-se aos «exames», «o que é que aquilo tem a ver com o nome que ele disse». Vara responde que «é Tagus» – ao que Sócrates comenta que «não sabe se isso é bom». «Foi aquilo que conseguiu arranjar», diz Vara.
«O gajo fala muito, fala muito» – comenta Sócrates. Armando Vara diz que «não lhe deu nenhuma indicação de coisa nenhuma». Sócrates diz que «o outro fala muito e fala pouco» – Armando Vara que veja isso.
Não sei a que se refere o primeiro-ministro, nem Armando Vara. Só sei que não se trata de uma conversa normal, e disso tenho a certeza. Não tenho mais certezas; apenas dúvidas.
Quando se acusa a oposição de andar a fazer perseguição pessoal ao primeiro-ministro, provavelmente não se conhece o teor do que levanta suspeitas em relação ao governante. E, também provavelmente, existe mais do que a conversa agora relatada pelo SOL. A ser verdade, é claro que deveria ser feita uma averiguação completa destes episódios verdadeiramente lastimáveis e rocambolescos, dignos de um policial da categoria B-movies .
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