(Benjamin Disraeli)
[...] O melhor resultado de Vivian Grey, foi tornar Disraeli Junior (como ele então se assinava) o favorito de Lady Blenington e do conde d'Orsay, as duas dominantes figuras de Londres d'essa época, e que tinham de sociedade o mais selecto, mais inteligente, mais apetecido salão de Inglaterra.
Estes dous formavam um tipo destinado a reinar. Lady Blenington era uma mulher de graciosa e olímpica beleza, de uma extrema audácia de carácter e de alta energia intelectual. O conde d'Orsay, esse era o homem que durante vinte anos governou a moda, o gosto, as maneiras, com a mesma indisputada autoridade com que hoje o príncipe de Bismarck arbitra na Europa.
Usar um modelo de gravata ou admirar um poeta que não tivessem sido aprovados pelo conde d'Orsay, seria correr o mesmo risco de uma nação que hoje, sem autorização secreta do príncipe de Bismarck, organizasse uma expedição militar. Lady Blenington, entre outras coisas embaraçadoras, tinha uma filha: e o belo d'Orsay, não sei porquê, nem ele o soube jamais, casou com essa menina. Os noivos vieram viver com Lady Blenington; e, bem depressa, entre seu brilhante marido e sua resplandecente mãe, a pobre condessa d'Orsay foi como uma pálida lâmpada bruxuleando entre dous astros. Fez então uma cousa sensata e espirituosa: apagou-se de todo, desapareceu. E o conde d'Orsay e Lady Blenington, livres d'aquela senhora que entristecia, regelava as salas com o seu ar honesto e frio, começaram então a cintilar tranquilamente, como constelações conjuntas no firmamento social de Londres. E Londres curvou-se diante d'esta nova e original situação doméstica, como se curvava diante de uma nova sobrecasaca do conde d'Orsay, ou diante de uma decisão literária de Lady Blenington.
Benjamin Disraeli tornou-se bem depressa um dos heróis d'este salão—onde desde logo se mostrara com esse ar de tranquila superioridade, de correcto desdém, que foi um dos segredos da sua força. Ordinariamente conservava-se calado, apoiado ao mármore da chaminé, n'uma pose d'Apolo melancólico, abandonando-se à carícia ambiente dos olhares das damas que viam n'ele a encarnação radiante do poético Vivian Grey. As pessoas mais íntimas, começando por Lady Blenington, já lhe chamavam sempre Vivian, querido Vivian. O conde d'Orsay fizera-lhe o retrato a sépia—honra que ele dava raramente, e a mais apetecida n'esse curioso mundo. [...]
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Eça de Queirós in “Cartas de Inglaterra” (Lord Beaconsfield)
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A figura é uma gravura do Conde d'Orsay publicada na The October Century Magazine
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