quinta-feira, 26 de julho de 2012

PROSA CAMILIANA

.
Habitualmente, tenho muito cuidado com a leitura porque ouvi dizer que há peças escritas capazes de danificar a integridade dos neurónios e, como não tenho muita robustez neuronal,  não me posso dar ao luxo de arriscar certas prosas. Por isso, nunca leio Fernanda Câncio — jamé!
Mas hoje, passou-me uma coisa pela cabeça e li. Pronto: li.
Gostei muito, especialmente quando, falando de Passos Coelho, chegou à parte que a seguir transcrevo:

E, como vamos percebendo cada vez melhor, é o retrato de um homem que se decalca de um modelo tão nosso conhecido, cada vez mais reconhecível no discurso e na obstinação de destino. Na exaltação da pobreza como redenção, da modéstia como suprema qualidade, no balanço das contas como religião, Passos apropria-se (se é que disso tem consciência, mas se não tem é bom que se informe) do cerne do discurso salazarento. [fim de citação]

Voilá! Esta foi na mouche! O "cerne do discurso salazarento"! Tal e qual. Quase tão bom  como D. Januário Torgal Ferreira.
Peço desculpa aos leitores pela impertinência ao fazê-lo, mas quero chamar a atenção para a riqueza da coisa: exaltação da pobreza como redenção, modéstia como suprema qualidade, balanço das contas públicas como religião — nem Camilo, digo-vos eu!
Quanto à religião do balanço das contas públicas, o Zezito era ateu. Se a modéstia como suprema qualidade é pecado, o Dr. Soares tem a salvação garantida. E no que toca à exaltação da pobreza como redenção, reconheça-se que no PS  não anda muita gente exaltada de facto.
Sobrevivi à leitura e à digestão da peça da Fernandinha, mas tão cedo não me meto noutra.
.
PS (não confundir com  Partido Socialista) - No melhor estilo de Arménio, a Fernandinha também  refere que o Primeiro-Ministro "se está a lixar para as eleições" — são iguais.
...

Sem comentários:

Enviar um comentário