segunda-feira, 5 de agosto de 2013

FIM DA LINHA

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Já em tempos falei da precariedade da vida terrena na História global do universo e da ainda mais precária vida do homem actual, que não ultrapassará muito os mil milhões de anos, num espectro que já vai quase em 14 mil milhões e será muito maior, talvez eterno. Isto é, ocupamos 1/14 da história do mundo que conhecemos, com tendência para a fracção diminuir constantemente, até não sabemos quanto. Afinal, somos um flash, com importância provavelmente inflaccionada pelos teólogos.
Lembrei-me disto porque reli recentemente a conferência de Bertrand Russell, referida há dois dias e intitulada "Why I Am Not a Christian", onde Russell diz o seguinte: [...] se aceitarmos as leis da ciência, temos de admitir que a vida humana, e a vida em geral, acabará em devido tempo: é um mero flash no todo universal; é um estádio na decadência do Sistema Solar; a certa altura dessa decadência, atinge-se o tipo de condições, temperatura e por aí fora, adequadas ao protoplasma, e há vida num curto momento da vida do Sistema Solar. Vemos na Lua aquilo para que tende a Terra—uma coisa morta, fria e sem vida.
Russell falava em 1927 e, embora já se soubesse que a existência da Terra era efémera, não se previa como iria ser o fim. Hoje sabe-se—do estudo da evolução de outras estrelas—que a Terra não acabará no frio, mas no calor, na agonia do Sol em expansão, matando a vida muito cedo nesse processo. Mas não interessa isso agora, dado ser um pormenor do que tratamos, apesar de fenómeno cósmico muito mais importante que nós todos juntos.
A vida—mais precisamente a vida humana—é, deste ponto de vista, um fenómeno circunstancial ocorrido em fase de decadência de um sistema planetário organizado em volta de uma estrela de terceira ou quarta ordem, num dos muitos milhares de milhões de galáxias do universo. Sem tomar partido—porque tal fecha a porta à discussão e reflexão—direi que custa aceitar a importância ontológica que o homem atribui a si próprio. É possível que seja ontologicamente importante, mas, se o é, há enorme desproporção com a importância cosmológica. Foi sempre assim e nem o conhecimento cada vez mais completo da sua insignificância tem mudado muito este ponto de vista.

2 comentários:

  1. Quando a terra desaparecer por exposição ao calor do sol os outros planetas mais longínquos e gelados aquecerão e ficarão com condições para a raça humana continuar a sua saga universal.

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  2. É um ponto de vista optimista e pouco verosímil. O aquecimento da Terra vai resultar da agonia do Sol, em fim de vida. Sem estrela,nenhum planeta do Sistema Solar terá condições para albergar vida, seja humana ou outra qualquer.

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