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De acordo com o jornal "Público" de 6 de Outubro de 2005, Jorge Sampaio, então Presidente da República, terá dito num discurso feito na véspera que a moralidade mais elementar e o sentimento de justiça continuarão gravemente diminuídos enquanto for possível exibir altos padrões de vida, luxos, e até reprováveis desperdícios, e, ao mesmo tempo, apresentar declarações fiscais de indigência. E ainda que a inversão do ónus da prova deveria ser aplicada a medidas de natureza fiscal e de natureza penal que devem ser introduzidas no combate à corrupção.
Apoiado, era caso para dizer. Mas o referido não tem tido agora—2014—muitos apoios de gente variada, incluindo correligionários de Sampaio que se limitam a produzir poios verbais e poios em letra de forma. A preocupação é com o segredo de justiça e suas derrapagens e com outras coisas mais importantes do que saber se este País foi ou não governado durante seis anos por um vigarista tout court.
Miguel Sousa Tavares, jornalista pistoleiro do costume, para usar expressão adequada na circunstância, e Clara Ferreira Alves, braço armado do eixo do mal, acham medonho que tenha havido reportagem televisiva da captura do Zezito no aeroporto, o que configuraria abominável quebra do segredo de justiça. Para quem não sabia, como eu, as coisas foram como passo a descrever.
A Polícia Judiciária estava no aeroporto à espera do Zezito que fez o check-in na TAP em Paris. Já depois disso, provavelmente porque alguém lhe soprou alguma coisa, cancelou a viagem. A Polícia Judiciária, perante a não chegada do suspeito, informou-se junto da TAP. A mesma cena repetiu-se posteriormente com um voo da Air France—novo check-in e nova desistência. A Polícia voltou a pedir informações à TAP. Finalmente, o Zezito acabou por chegar noutro voo da Air France, horas depois do primeiro. Nessa altura, já toda a gente no aeroporto sabia que a Polícia Judiciária estava lá à espera dele e, daí até chegar à televisão, é um instante.
A ida directa para o chilindró justificou-se pelo receio que fosse a casa desviar ou destruir provas que existiam, como se verificou no dia seguinte quando os magistrados e os inspectores lá foram vasculhar. Pela mesma razão ter-lhe-á sido apreendido de imediato o telemóvel, no momento da prisão.
Transcrevo agora, com a devida vénia, uma passagem do blog "Proa ao Mar", cuja leitura aconselho e diz assim: [...] havia um coro generalizado pela necessidade de combater a corrupção e de prender pessoas, por haver uma presunção generalizada de que a corrupção permeava a política, e que “a Justiça” era ineficaz perante a corrupção. Ainda há uma semana “a Justiça” estava a atuar bem no caso dos Vistos Gold, onde os mesmos não duvidavam da corrupção nem das culpas dos suspeitos e de muitos outros. Mas logo que “a Justiça” atuou sobre um político importante, com suspeitas de corrupção, muitos do coro suspeitam que “a Justiça” está a atuar mal e demais.
Há pachorra para isto? Não há!... O Dr. Soares ainda se tolera porque está senil e só diz burrices. Mas há gente sem amolecimento cerebral a insinuar a mesma coisa. É porque só tem merda na cabeça como a lagosta? Não é. É porque são uns sacanas.
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(Com colaboração de J. Castro Brito)
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