terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

UMA HISTÓRIA TRÁGICA E MARÍTIMA

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Num blog intitulado "Navios à Vista", encontrei o relato de um encontro do paquete "SERPA PINTO" com um submarino alemão, a 600 milhas das Bermudas. É um documento interessante porque dá ideia de como se passavam as coisas no mar naquela época de guerra. 

O texto não está com muita qualidade, pelo que fiz algumas correccões pontuais. Reza assim a parte inicial e principal:


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Serpa Pinto
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Em 1940 havia em Lisboa imensos refugiados de guerra, sobretudo judeus, que se encontravam em trânsito para os E.U.A. e, como tal, o "SERPA PINTO", assim como outras unidades mercantes nacionais, entraram nesse tráfego, utilizando os portos de Filadélfia e Baltimore. Além das viagens aos E.U.A., também realizou, ainda durante os anos de guerra, viagens ao Brasil e a África.
Naquela época a maior parte dos passageiros eram judeus fugidos dos países do “Eixo” e o paquete de imediato se tornou bem conhecido, quer das forças “Nazis”, quer dos “Aliados”. Vários episódios graves provam o que se dizia. Em 1941, quando navegava em pleno Atlântico, o paquete foi interceptado pela “Royal Navy” que o obrigou a seguir para as Bermudas, onde lhe foi passada uma busca durante três dias. Os Ingleses suspeitavam, que o paquete transportasse passageiros de nacionalidade Alemã.
A 26.05.1944, pela meia-noite, apesar de totalmente iluminado, mostrando a sua sinalização convencional de navio mercante neutral, quando em viagem de Lisboa e Ponta Delgada para os E.U.A., foi mandado parar pelo submarino Alemão U-541, a 600 milhas a leste das Bermudas. Além de 157 tripulantes, iam a bordo 228 passageiros e destes fazia parte um grande número de judeus refugiados de guerra. Por ordem do seu comandante, Kapitanleutnant Kurt Petersen, foi arriada uma embarcação, que conduziu para bordo do submarino o imediato e o segundo piloto do "SERPA PINTO", levando os documentos do navio. O imediato ficou retido como refém, enquanto um oficial alemão e marinheiros armados de metralhadoras se deslocaram a bordo do paquete para passarem uma busca. O oficial alemão informou o comandante Português que procurava um cidadão britânico, natural do Canadá, que foi levado ao submarino, após ter sido localizado no seu camarote. O imediato regressou a bordo com a notícia de que o "SERPA PINTO" seria torpedeado dentro de 20 minutos e, por esse motivo o paquete foi abandonado, permanecendo os passageiros e tripulantes nos barcos salva-vidas ao sabor das ondas. O tempo passou e, cinco horas mais tarde, o comandante do "SERPA PINTO" foi levado à presença do seu homólogo Alemão, tendo este informado, que aguardava de Berlim, a confirmação da ordem de afundamento do navio. Pelas 08h00, finalmente chegou a ordem de não afundar o paquete, regressando a bordo os passageiros, tripulantes e ainda o cidadão britânico. No entanto, dois Americanos de origem lusa ficaram detidos a bordo do submarino, o qual permaneceu próximo do paquete até ao meio-dia, tendo por fim submergido e o "SERPA PINTO" prosseguido viagem para Filadélfia às 17h00. Os dois Americanos feitos prisioneiros foram levados para a base de Lorient, onde o U-541 chegou a 22.06.1944, ignorando-se as razões da sua detenção.
O incidente forçara o paquete a uma paralisação de cerca de 17 horas, grande parte de noite, e assustara e incomodara passageiros e tripulantes. Com a confusão que se gerou, o médico de bordo, um cozinheiro e uma criança de 16 meses perderam a vida, devido a terem caído ao mar. Em Dezembro de 1942 atracava no porto de Lisboa, trazendo a bordo 40 crianças de nacionalidade britânica, que haviam sido evacuadas para os E.U.A. e agora, voluntariamente, regressavam à Europa.
O U-541 sob o comando do Kapitanleutnant Kurt Petersen, após terminada a guerra, rumou a Gibraltar por ordem do almirantado Alemão, onde se rendeu às autoridades navais Britânicas a 14.05.1945. Mais tarde foi levado para Lisahally, na Irlanda do Norte, onde se juntou a uma enorme alcateia* de outros submarinos Alemães, que também se tinham rendido aos “Aliados”. Em 05.01.1946 aquele submarino foi afundado, na denominada operação Deadlight, alvejado pelos contratorpedeiros HMS ONSLAUGHT e HMS ZEALOUS ao largo da costa, posição 55.38N e 07.35W. O seu comandante ficou detido, permanecendo num campo de prisioneiros de guerra na Grã-Bretanha até Janeiro de 1948. [
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* No Brasil usa-se "alcateia de submarinos", segundo o Dicionário Priberam.
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