domingo, 11 de março de 2012

DO QUE SEGURO ESTÁ SEGURO

.
[...] Confrontado com os números do desemprego e das falências, António José Seguro acusou Pedro Passos Coelho de ser "o primeiro--ministro com maior insensibilidade social de sempre". Deus Todo Poderoso e alguns leitores são testemunhas de que não reverencio por aí além o actual chefe de Governo, mas a afirmação do dr. Seguro, tão violenta quanto vaga, deixou-me a pensar.
Em primeiro lugar, a pensar na História. O que será que o dr. Seguro quis dizer com "sempre"?
Referia-se apenas ao regime vigente, incluindo o malvado Cavaco Silva e o enxovalhado Santana Lopes? Limitou-se à República em geral e considerou tanto Salazar e Caetano quanto cada um daqueles incontáveis primeiros-ministros que precederam o Estado Novo e governavam durante quinze dias? Ou é possível que o dr. Seguro seja erudito a ponto de ter avaliado criteriosamente a "insensibilidade social" de todos os primeiros-ministros, presidentes do Conselho de Ministros, presidentes do Ministério, secretários de Estado dos Negócios do Reino, ministros de Estado, presidentes da Junta Provisional e secretários de Estado que mandaram ou fingiram mandar nos executivos desde o popular Miguel de Vasconcelos até aos nossos dias? Não faço ideia.
Também não imagino como é que o dr. Seguro mede a "insensibilidade social" dos políticos. Pela cara? Pelas acções? Através de instrumentos de alta, ou baixa, tecnologia? Um "insensível social" é o indivíduo que demonstra avareza na hora de distribuir consolo aos pobres? Ou é o que se esquece de introduzir a temática da pobreza em pelo menos 65% daquilo que diz? Ou o que não enverga uma expressão facial compungida quando disserta acerca dos necessitados? Ou o que, por incapacidade e desonestidade patológicas, governa de modo tão abominável que arruína um país e que, mediante uma falta de lealdade para com os cidadãos muito mais grave do que a falta de lealdade de que o Presidente da República se queixa, condena boa parte da população a sofrer por muitos e bons anos as consequências de tamanho desastre?
No máximo, Pedro Passos Coelho é o primeiro-ministro com maior "insensibilidade social" desde o eng. Sócrates, a cujo partido o dr. Seguro pertence e a cujo fulminante desprezo pelo bem-estar alheio o dr. Seguro assistiu em recato. [...]
.
Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
.

Sem comentários:

Enviar um comentário