Aristóteles afirmava que, no vácuo, objectos com massa
diferente caem com aceleração diferente. De facto, Aristóteles não sabia – era um
mero palpite porque não experimentou coisa nenhuma. Seria materialmente difícil
para Aristóteles experimentar? Sim senhor e, por isso, a sua autoridade fazia
doutrina, mesmo não sendo necessário experimentar nada para saber que estava
errado. Ou melhor, experimentar no sentido material, porque há outra, ou outras
formas de experimentar.
Mais tarde, diz-se que Galileu engendrou uma experiência
muito tosca na Torre de Pisa, com dois calhaus de massas diferentes, deixados
cair do cimo da torre. É claro que Galileu não tinha capacidade de medir com
precisão o tempo que levavam a chegar ao solo e os resultados da experiência teriam
sido pior que péssimos.
Na realidade, a este problema aplica-se aquilo a que
Einstein chamava gedankenexperiment ou, em linguagem acessível, experiência
mental; e foi o que Galileu fez, de acordo com o escrito no Discorsi e Dimostrazioni Matemache, numa conversa entre Salviati e
Simplicio. Resumidamente, foi assim:
Se unirmos as duas pedras por um fio de massa desprezível,
e se caíssem com aceleração diferente, a de menor massa desacelerava a de maior
massa e o contrário também acontecia. De qualquer forma, nunca podem cair com
maior aceleração do que quando a maior cai individualmente. Pelo contrário,
cairão sempre com menor aceleração que a maior isolada.
Se reduzirmos o comprimento do fio a zero, as duas pedras
funcionam como um corpo único cuja massa corresponde à soma das massas das
duas; e, então, deveriam cair com maior aceleração, o que é um absurdo porque
são exactamente as mesmas pedras e a mesma massa da experimentação anterior.
A experiência mental não é uma laracha de almanaque, ao
contrário do que parece. Em boa verdade a gedankenexperiment é a base da
ciência moderna, aplicada na Física Quântica pelos físicos teóricos, por
exemplo. Higgs usou-a para deduzir a existência da partícula que tem o seu nome
e carece ainda de demonstração material. O mesmo fizeram grandes físicos, como Schrödinger com a radioactividade, Maxwell com a termodinâmica e muitos outros. E
Einstein serviu-se da experimentação mental para formular a teoria da
relatividade que, nas suas linhas gerais, é um produto tipicamente teórico,
baseado na experiência mental.
E todos nós, e era aqui que queria chegar, devemos ter
permanentemente à mão a gedankenexperiment na vida quotidiana. Aplica-se a
quase tudo; e não assistiríamos a tanta asneirada, cavalada, jericada e burrada
se fosse instilada desde a infância nas cabecinhas dos petizes.
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