.
Dizia eu ontem, a propósito da depleção do ozono nas
regiões polares, que a explicação científica dada para o fenómeno por Molina, Crutzner e Rowland, que morreu no Sábado, foi contestada por muitos e, provavelmente,
ainda será. O próprio Molina, como disse, mantinha reserva sobre a matéria,
depois de ser galardoado com o Prémio Nobel da Química por participar na sua
formulação.
A este respeito, li hoje um texto, da autoria de Carlo
Rovelli, sobre o “cientificamente provado”, expressão usada quase sempre para
atestar a validade de qualquer conceito, e considerada por Rovelli como fonte
frequente de erro, mesmo de insistência na asneira. A depleção do ozono pelos
clorofluorcarbonetos pode caber aqui.
A ciência tem no seu fundamento um princípio sine qua non,
qual é o da abertura sistemática à dúvida: o bom cientista nunca está “certo”; isto
é, não alimenta “verdades indiscutíveis”. É seguro que a Terra vai continuar a aquecer,
ou que os detalhes da Teoria da Evolução constituem factos inegáveis, ou são as medicinas alternativas
menos eficazes que a Medicina científica? É provável que sim, mas manda a
norma, e sobretudo a prudência, manter a reserva. Quer isto dizer que devemos
abandonar a preocupação com o aquecimento global, encarar o Universo como
criado há 6 mil anos tal como é hoje, ou optar pelas medicinas alternativas em
substituição da Medicina tout court? Podemos, mas não devemos porque seria
estúpido. A falta de certeza não é debilidade ou falta de credibilidade. Pelo
contrário, a admissão da incerteza é a maior força da ciência desde o tempo em
que a Terra era plana, ou o centro do Universo. Existe grande probabilidade de
as coisas serem como se pensa no tempo actual. Mas probabilidade não é verdade
e tempo actual não é eternidade.
Como escreveu Lawrence Krauss, físico da Universidade de
Arizona, a noção de incerteza na ciência é dos conceitos mais difíceis de
entender pelo público. Esta, sim, é uma certeza absoluta!
terça-feira, 13 de março de 2012
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário