terça-feira, 13 de março de 2012

RESERVA NÃO TEM FIM; CERTEZA SIM

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Dizia eu ontem, a propósito da depleção do ozono nas regiões polares, que a explicação científica dada para o fenómeno por Molina, Crutzner e Rowland, que morreu no Sábado, foi contestada por muitos e, provavelmente, ainda será. O próprio Molina, como disse, mantinha reserva sobre a matéria, depois de ser galardoado com o Prémio Nobel da Química por participar na sua formulação.
A este respeito, li hoje um texto, da autoria de Carlo Rovelli, sobre o “cientificamente provado”, expressão usada quase sempre para atestar a validade de qualquer conceito, e considerada por Rovelli como fonte frequente de erro, mesmo de insistência na asneira. A depleção do ozono pelos clorofluorcarbonetos pode caber aqui.
A ciência tem no seu fundamento um princípio sine qua non, qual é o da abertura sistemática à dúvida: o bom cientista nunca está “certo”; isto é, não alimenta “verdades indiscutíveis”. É seguro que a Terra vai continuar a aquecer, ou que os detalhes da Teoria da Evolução constituem  factos inegáveis, ou são as medicinas alternativas menos eficazes que a Medicina científica? É provável que sim, mas manda a norma, e sobretudo a prudência, manter a reserva. Quer isto dizer que devemos abandonar a preocupação com o aquecimento global, encarar o Universo como criado há 6 mil anos tal como é hoje, ou optar pelas medicinas alternativas em substituição da Medicina tout court? Podemos, mas não devemos porque seria estúpido. A falta de certeza não é debilidade ou falta de credibilidade. Pelo contrário, a admissão da incerteza é a maior força da ciência desde o tempo em que a Terra era plana, ou o centro do Universo. Existe grande probabilidade de as coisas serem como se pensa no tempo actual. Mas probabilidade não é verdade e tempo actual não é eternidade.
Como escreveu Lawrence Krauss, físico da Universidade de Arizona, a noção de incerteza na ciência é dos conceitos mais difíceis de entender pelo público. Esta, sim, é uma certeza absoluta!

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