.
No dia 16 de Março de 1912, faz 100 anos na próxima
Sexta-Feira, o capitão Lawrence Oates, de 31 anos, saiu descalço duma tenda na
gelada Antárctida e disse para os companheiros: “Vou lá fora e pode ser que
demore um bocado”. Nunca mais ninguém o viu, nem vivo, nem morto.
Oates regressava do Polo Sul junto com Scott e mais três
parceiros, depois de constatarem que haviam sido precedidos por Amundsen na
chegada àquele horrível local situado no cu do mundo. Sofria de lesões graves produzidas pelo frio,
estava sub-alimentado, e tinha enormes dores das sequelas dum ferimento de
guerra que lhe deixou um dos membros inferiores mais curto. Atrasava a marcha de
regresso dos companheiros, também eles desmoralizados e doentes, e já lhes
havia pedido para o abandonarem e seguirem caminho. Com a sua decisão, Oates
pôs fim ao problema que estava a criar aos parceiros, embora isso não lhes tivesse
servido de nada.
Pergunta-se: quantos de nós seriam capazes de fazer o mesmo
que Lawrence Oates? É difícil responder porque, desde logo, muitos de nós, eu
incluído, não se vêem metidos numa situação daquelas. Oates teve de pagar – literalmente,
em metal sonante - para participar na expedição que o fez sofrer e morrer anonimamente
de forma inenarrável, financiando-a. Quantos dos que me lêem sabia o nome de
Oates, ou conhecia as circunstâncias em que morreu? Ficou na História? Ficou,
mas apenas na História dos especialistas e não do povão. Daqui a 100 anos
haverá mais gente no mundo a conhecer Cristiano Ronaldo que os que hoje conhecem
Lawrence Oates!
Mas também acho que pessoas como Oates não fazem as
coisas a pensar nisso. Numa das guerras em que participou, na África do Sul,
quando a sua unidade estava em vias de ser massacrada e surgiam vozes de
rendição, Oates negou-se a fazê-lo dizendo que tinha vindo àquele local para
combater e não para se render. Combateu, não se rendeu e não morreu. Na Antárctida,
combateu, mas rendeu-se em prol dos companheiros e morreu por isso. São assim
os heróis. Estava preparado para tal desde o princípio, quando se candidatou para
integrar a expedição de Scott.
.
Em cima, o grupo de cinco exploradores, incluindo Oates, que chegaram ao Polo e morreram. À esquerda, o capitão Lawrence Oates.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário