quarta-feira, 7 de março de 2012

META-INDUÇÃO PESSIMISTA

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Já houve quem afirmasse que a Terra era plana. E também que o Sol girava à volta da Terra. E que os corpos com massa diferente caiam com acelerações diferentes. E muitas outras coisas em que as pessoas acreditaram; incluindo sumidades científicas da época, cuja opinião era indiscutível, embora errada. É a vida, como diria António Guterres.
Mas isso são coisas do passado! Graças a Deus, temos a felicidade de ter nascido no momento em que a ciência atingiu o clímax, pensamos nós. Harry Levin, crítico literário inspirado, escreveu um dia: “O hábito de considerar a nossa idade o apogeu da civilização, a nossa cidade o eixo do Universo, e o nosso horizonte o limite do conhecimento, é inexplicavelmente frequente”. 
No mínimo, consideramos o produto da ciência como matéria cumulativa que se vai adicionando ao produto herdado, caminhando sempre na via da cada vez melhor compreensão do mundo. O adquirido, achamos, é para ficar; completado eventualmente no futuro com novas aquisições. Posição perigosa esta: se fôssemos prudentes, olharíamos para a história da ciência, onde se encontram razões para ter medo de tal posição.
Mostra essa história que muita ciência, ou o que na sua época era ciência, colapsou de todo, sendo impossível adicionar-lhe fosse o que fosse, ou corrigi-la de alguma forma. Sofria de doença congénita incurável e fatal. Esta visão caracteriza a corrente da Filosofia Científica chamada  de meta-indução, ou meta-indução pessimista, que procura chamar os cientistas à realidade. A ideia é que todas as teorias são fundamentalmente provisórias e eventualmente erradas. E tal não representa nenhum menosprezo ou ameaça à investigação e ao estudo científico. Pelo contrário, é factor de controlo do seu produto final. Nunca a atenção ao contraditório foi perniciosa ao saber. Os bons cientistas percebem isso. Sabem que são instrumentos de aproximação ao conhecimento e que constroem apenas modelos. Modelos que, às vezes, estão muito próximos da realidade. Mas só isso.
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