sábado, 14 de março de 2015

À MARRETADA NÃO VAI LÁ

.


O jornalista Octávio dos Santos escreve hoje, no jornal "Público", um artigo que começa assim:

A imposição—ilegítima, ilegal, imoral, inútil, prejudicial, ridícula, totalitária—do dito “Acordo Ortográfico de 1990” como que já “normalizou”, aparente e infelizmente, aberrações como “atividade”, “ator” e “atriz”, “direto”, “espetáculo”, e outras (de)mais.
Porém, bastantes “anomalias” adicionais têm vindo a ocorrer induzidas pela ideia—errada mas compreensível—de que, com o AO 90, qualquer consoante de pronunciação minimamente “duvidosa” provavelmente não deve estar antes de outra.

E para ilustrar o que diz, apresenta uma série de grafias usadas por múltiplas gentes em 140 palavras de que se transcrevem a seguir alguns exemplos.

abruto, acupuntura, adatação, adeto, artefato, autótenes, avertência, batéria, compatar, conetar, conosco, espetativa, ilariante,  intato, mastetomia, otogenário, seticemia, tenologia, umidade, vasetomia, rebabá.

Está tudo errado, mas o facto é que os exemplos não foram tirados de redacções dos primeiros anos de escolaridade, de autos duma autoridade policial, do Facebook, nem do discurso de qualquer deputado da Assembleia da República, o que se aceitaria. Segundo diz Octávio Santos, as 140 palavras referidas—agora esdrúxulas, embora não literalmente—"moram" em sites de instituições como—e agora pasme quem continuar a ler—A Bola, Autoridade Tributária e Aduaneira, Banco Santander, Boehringer Ingelheim, Câmara Municipal de Alfândega da Fé, Câmara Municipal de Guimarães, Câmara Municipal de Viseu, CMTV, Correio da Manhã, Correio do Minho, Destak, Diário da República, Diário de Notícias, Diário do Alentejo, Direcção-Geral do Património Cultural, Escola Superior de Educação de Bragança, Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu, Expresso, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Fenprof, FNAC, Fundação Calouste Gulbenkian, Instituto Polité(c)nico de Coimbra, Instituto Politécnico de Lisboa, Instituto Politécnico de Viseu, Jornal de Notícias, Lusitânia Seguros, MaisFutebol, Ministério da Educação e Ciência, OLX, Portugalio, Presidência do Conselho de Ministros, Procter & Gamble, Revista Portuguesa de Cardiologia, Sapo, SIC, Tribunal da Relação do Porto, TVI, Universidade de Aveiro, Universidade Católica Portuguesa, Universidade do Porto, Universidade Lusófona e Visão.
É de cair de costas, para não dizer de cu! Segundo o jornalista, o perigo de proliferação e de multiplicação de erros e de deturpações foi previsto e alertado atempada e acertadamente por muitos opositores que não foram ouvidos e vêem agora os seus receios confirmados.
Passo a explicar porque acontecem estas coisas. Primeiro, é fruto da saloiada, consubstanciada na vontade do Professor Malaca Casteleiro deixar o seu nome na História da língua portuguesa. Vai deixar, infelizmente, pela pior razão. Depois por uma das piores características do povo lusitano, qual é a de adorar sabujar-se ao estrangeiro, neste caso ao Brasil. Brasil que, nesta matéria, e muitas outras, se está a cagar para nós.
Toda a gente compreende que as línguas não são estáticas e evoluem com o tempo; mas evoluem naturalmente e não a escopro e martelo. E a coisa mais difícil de conseguir, seja na língua, na arte, na ciência,no preconceito social e por aí fora, é fazê-lo à marretada.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário