O jornalista Octávio dos Santos escreve hoje, no jornal
"Público", um artigo que começa assim:
A imposição—ilegítima, ilegal, imoral, inútil,
prejudicial, ridícula, totalitária—do dito “Acordo Ortográfico de 1990” como
que já “normalizou”, aparente e infelizmente, aberrações como “atividade”, “ator”
e “atriz”, “direto”, “espetáculo”, e outras (de)mais.
Porém, bastantes “anomalias” adicionais têm vindo a
ocorrer induzidas pela ideia—errada mas compreensível—de que, com o AO 90,
qualquer consoante de pronunciação minimamente “duvidosa” provavelmente não
deve estar antes de outra.
E para ilustrar o que diz, apresenta uma série de grafias
usadas por múltiplas gentes em 140 palavras de que se transcrevem a seguir
alguns exemplos.
abruto, acupuntura, adatação, adeto, artefato, autótenes,
avertência, batéria, compatar, conetar, conosco, espetativa, ilariante, intato, mastetomia, otogenário, seticemia, tenologia,
umidade, vasetomia, rebabá.
Está tudo errado, mas o facto é que os exemplos não foram
tirados de redacções dos primeiros anos de escolaridade, de autos duma
autoridade policial, do Facebook, nem do discurso de qualquer deputado da
Assembleia da República, o que se aceitaria. Segundo diz Octávio Santos, as 140
palavras referidas—agora esdrúxulas, embora não literalmente—"moram"
em sites de instituições como—e agora
pasme quem continuar a ler—A Bola, Autoridade
Tributária e Aduaneira, Banco Santander, Boehringer Ingelheim, Câmara Municipal
de Alfândega da Fé, Câmara Municipal de Guimarães, Câmara Municipal de Viseu,
CMTV, Correio
da Manhã, Correio do Minho, Destak,
Diário
da República, Diário de
Notícias, Diário do Alentejo, Direcção-Geral do Património
Cultural, Escola Superior de Educação de Bragança, Escola Superior de
Tecnologia e Gestão de Viseu, Expresso, Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto, Fenprof, FNAC, Fundação Calouste Gulbenkian,
Instituto Polité(c)nico de Coimbra, Instituto Politécnico de Lisboa, Instituto
Politécnico de Viseu, Jornal de Notícias, Lusitânia
Seguros, MaisFutebol, Ministério da Educação e Ciência,
OLX, Portugalio, Presidência do Conselho de Ministros, Procter & Gamble, Revista
Portuguesa de Cardiologia, Sapo, SIC, Tribunal da
Relação do Porto, TVI, Universidade de Aveiro, Universidade Católica
Portuguesa, Universidade do Porto, Universidade Lusófona e Visão.
É de cair de costas, para não dizer de cu! Segundo o
jornalista, o perigo de proliferação e de multiplicação de erros e de
deturpações foi previsto e alertado atempada e acertadamente por muitos
opositores que não foram ouvidos e vêem agora os seus receios confirmados.
Passo a explicar porque acontecem estas coisas. Primeiro,
é fruto da saloiada, consubstanciada na vontade do Professor Malaca Casteleiro deixar
o seu nome na História da língua portuguesa. Vai deixar, infelizmente, pela
pior razão. Depois por uma das piores características do povo lusitano, qual é
a de adorar sabujar-se ao estrangeiro, neste caso ao Brasil. Brasil que, nesta matéria, e muitas outras, se está a cagar para nós.
Toda a gente compreende que as línguas não são estáticas
e evoluem com o tempo; mas evoluem naturalmente e não a escopro e martelo. E a coisa
mais difícil de conseguir, seja na língua, na arte, na ciência,no preconceito
social e por aí fora, é fazê-lo à marretada.
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