domingo, 15 de março de 2015

LOREM IPSUM

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Provavelmente, porque lê "O Dolicocéfalo", é culto/a e sabe o que é Lorem ipsum; mas, se não sabe, talvez fique a saber depois da tosca explicação que vou dar. Lorem ipsum é um texto em latim cujo conteúdo não interessa raspas a quem o lê: só interessa o aspecto gráfico. Parece estúpido, não parece? É mesmo estúpido, mas é coisa consagrada pela tradição—tal e qual!
Imagine que está a preparar uma peça para publicar na primeira página do "The Times" (podia ser outro jornal mais modesto, mas um texto seu só neste). Então, o editor, ou coisa parecida, do jornal reserva-lhe um espaço porque sabe quantas palavras vai ter a obra e quer mostrar-lhe antecipadamente como ficará depois da dada à estampa. Por exemplo, se fosse uma peça do Dr. Soares a falar das ondas de 16 metros que corroem as praias, teria 2.500 palavras. O seu, naturalmente, vais ter menos porque não é senador nem senadora. Portanto, o editor imprime a página do jornal e, no espaço onde vai figurar a sua brilhante peça, põe uma trampa qualquer que não interessa nada, como se fosse um manequim: prega lá o Lorem ipsum!

Se tem um vinho para vender e pede a um designer o rótulo para as garrafas, ele faz uns bonecos e, onde vão estar dizeres, escreve o Lorem ipsum.
Chegados aqui, perguntar-se-á, o que é o Lorem ipsum e quem e onde o foram buscar. Quanto ao autor da ideia, parece que ninguém ainda o identificou porque, inexplicavelmente, não foi preso. No que respeita ao conteúdo, começa assim: Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua. Ut enim ad minim veniam, quis nostrud exercitation ullamco laboris nisi ut aliquip ex ea commodo consequat. Duis aute irure dolor in reprehenderit in voluptate velit esse cillum dolore eu fugiat nulla pariatur. Excepteur sint occaecat cupidatat non proident, sunt in culpa qui officia deserunt mollit anim id est laborum. 
Está a perceber? Espero que não. É, mais ou menos isto: "Aquele que ama ou exerce ou deseja a dor, pode ocasionalmente adquirir algum prazer na labuta. Para dar um exemplo trivial, qual de nós se submete a laborioso exercício físico, excepto para obter alguma vantagem com isso. Desmoralizado pelos encantos do prazer, percebe que a dor não resulta em prazer algum. Está tão cego pelo desejo que não pode prever quem não cumprirá seu dever por fraqueza de vontade. Rebabá".
O inspirado autor da peça foi Cícero e ela é parte duma obra que jamais lerei chamada De finibus bonorum et malorum.
Está esclarecido/a? Claro que não. Felizmente!
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