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Michel de Montaigne, filósofo francês do Século XVI, um
dia escreveu qualquer coisa como isto: Morrer de velho é uma morte rara,
extraordinária e singular e, portanto, muito menos natural que as outras. Ocorre
na fronteira da vida, para além da qual não vamos: onde a lei natural marcou um
limite que não pode ser ultrapassado.
Morremos de cancro, de acidente cardiovascular, de
infecções várias, de traumatismo e por aí fora e, às vezes, morre-se de velho?—pergunto eu. Montaigne acreditava que sim. Eu não acho tal—com todo o respeito.
A vida acompanha-se de processos permanentes,
irreversíveis e, por isso, cumulativos
de degradação das estruturas celulares e, consequentemente, das funções orgânicas.
Com o passar do tempo, a capacidade de resistir a investidas nóxias do ambiente
enfraquece. E, um belo dia, um "sopro" apaga a vida, como apaga a
chama da vela; seja uma infecção irrelevante, um micro-enfarte, o vaso sanguíneo
que cede a um pico insignificante da pressão sanguínea, seja o que for—e seria
inócuo num jovem.
Serve isto para dizer que todos morrem de doença, facto bem diferente
de "morrer de velho". O velho é mais vulnerável à doença e morre mais
facilmente com ela—só isso. Se acham bem falar como Montaigne, façam-no. Mas
estão a usar a ideia e a imagem errada.
Vem isto a propósito do vídeo que publico em baixo, fruto
de investigação feita em 5 adultos submetidos semanalmente a exames
imagiológicos do encéfalo, durante 16 semanas. São registados vários acidentes
vasculares cerebrais clinicamente irreconhecíveis que, naturalmente, deixam
sequelas na massa branca fibrosa do
cérebro. São esse micro-episódios repetidos de "doença" sub-clínica que vão
desencadear a demência—não a velhice, está bom de ver.
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