Dallas G. Denery é professor de História no Bowdoin College, no Maine, e autor do livro
"O Diabo Vence: Uma História da Mentira Desde o Jardim do Éden até ao
Iluminismo". Há três dias, escreveu no site
"AEON Online" um artigo cujo título é Can God Lie? (Pode Deus Mentir?) que começa assim:
Quem alguma vez leu
a Bíblia sabe que Deus fala. Durante seis dias, Deus falou para fazer existir o
mundo, e depois falou com Adão e Eva, no Jardim do Éden. A seguir falou com Caim
e Abel, com Noé, com Abraão e muitos outros. Que coisas disse Deus? Deu ordens—"Faça-se
a Luz"—fez proibições—"Não comam daquela árvore"—formulou
perguntas, decretou penas, deixou avisos, fez previsões meteorológicas e
ordenou a um homem velho que matasse o seu único filho. Por vezes disse estas
coisas calmamente, por vezes com sarcasmo, ocasionalmente, as Suas palavras
estavam cheias de zanga, piedade, ou amor. Quando Deus fala, o povo ouve; mas
quando o povo ouve, deve sempre acreditar Nele? Por outras palavras, pode Deus
mentir?
É um início inesperado este. Não se prevê que um intelectual
responsável aborde tal tema porque, por definição, Deus não mente—é uma
condição inerente à Sua natureza para os crentes. Contudo, durante mais de
1.000 anos, a matéria foi discutida por teólogos respeitados, o que significa
não ser tão descabida como parece. O próprio Santo Agostinho discorreu sobre ela.
Em boa verdade, a questão não é tanto se Deus mente, mas antes se Deus engana,
o que pode constituir diferença subtil.
Abrão foi cruelmente enganado quando recebeu ordem para
matar o seu único filho Isaac. Só se apercebeu de tal quando estava em vias de
consumar o sacrifício e Deus o mandou suspender o ritual. Todos percebem o
sofrimento de Abrão e é difícil ao nosso entendimento aceitar um engano tão
cruel assim.
O próprio milagre pode ser filosoficamente encarado como um
engano. Deus fez o universo ex nihilo,
regido por leis e regras eternas e assim se espera que seja. Milagre é fenómeno
marginal na ordem do universo, imprevisto e, de certa forma, engano/surpresa
para o homem.
Os possíveis exemplos são muitos, alguns teologicamente
complicados; mas parece não haver dúvidas que, na perspectiva humana, Deus "engana"
em certos casos. A interpretação do facto constitui matéria teológica pesada,
mas não consiste em negá-lo tout court. Leia o texto completo aqui, se lhe interessa.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário