domingo, 1 de março de 2015

PODE DEUS ENGANAR ?

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Dallas G. Denery é professor de História no Bowdoin College, no Maine, e autor do livro "O Diabo Vence: Uma História da Mentira Desde o Jardim do Éden até ao Iluminismo". Há três dias, escreveu no site "AEON Online" um artigo cujo título é Can God Lie? (Pode Deus Mentir?) que começa assim:

Quem alguma vez leu a Bíblia sabe que Deus fala. Durante seis dias, Deus falou para fazer existir o mundo, e depois falou com Adão e Eva, no Jardim do Éden. A seguir falou com Caim e Abel, com Noé, com Abraão e muitos outros. Que coisas disse Deus? Deu ordens—"Faça-se a Luz"—fez proibições—"Não comam daquela árvore"—formulou perguntas, decretou penas, deixou avisos, fez previsões meteorológicas e ordenou a um homem velho que matasse o seu único filho. Por vezes disse estas coisas calmamente, por vezes com sarcasmo, ocasionalmente, as Suas palavras estavam cheias de zanga, piedade, ou amor. Quando Deus fala, o povo ouve; mas quando o povo ouve, deve sempre acreditar Nele? Por outras palavras, pode Deus mentir?

É um início inesperado este. Não se prevê que um intelectual responsável aborde tal tema porque, por definição, Deus não mente—é uma condição inerente à Sua natureza para os crentes. Contudo, durante mais de 1.000 anos, a matéria foi discutida por teólogos respeitados, o que significa não ser tão descabida como parece. O próprio Santo Agostinho discorreu sobre ela. Em boa verdade, a questão não é tanto se Deus mente, mas antes se Deus engana, o que pode constituir diferença subtil.
Abrão foi cruelmente enganado quando recebeu ordem para matar o seu único filho Isaac. Só se apercebeu de tal quando estava em vias de consumar o sacrifício e Deus o mandou suspender o ritual. Todos percebem o sofrimento de Abrão e é difícil ao nosso entendimento aceitar um engano tão cruel assim.
O próprio milagre pode ser filosoficamente encarado como um engano. Deus fez o universo ex nihilo, regido por leis e regras eternas e assim se espera que seja. Milagre é fenómeno marginal na ordem do universo, imprevisto e, de certa forma, engano/surpresa para o homem.
Os possíveis exemplos são muitos, alguns teologicamente complicados; mas parece não haver dúvidas que, na perspectiva humana, Deus "engana" em certos casos. A interpretação do facto constitui matéria teológica pesada, mas não consiste em negá-lo tout court. Leia o texto completo aqui, se lhe interessa.
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