terça-feira, 17 de março de 2015

SOFTWARE BABEL

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Uma das matérias muitas vezes abordadas neste espaço é a da relação pensamento/linguagem. A pergunta é: Como era o pensamento antes da linguagem? Ou nem sequer existia pensamento?
Há teorias várias, o que significa que todas são respeitáveis e nenhuma presta.
Diz-se que a linguagem, ou a capacidade de a usar, está garantida no ADN e é consequência natural da evolução. Não nascemos a saber falar, mas acabamos por falar como a andorinha acaba por voar. Em tal eventualidade, linguagem e pensamento confundem-se.
Antes da evolução dispor as coisas desta forma, o pensamento seria como o do animal, ou seja, capacidade de memorizar e associar imagens. O cão que vê o dono a pegar na trela manifesta alegria porque associa a imagem ao passeio no jardim, ao encontro com companheiros da mesma estirpe, ao alívio intestinal e por aí fora. Não pensa: O gajo pegou na trela e vai levar-me à rua para correr, conviver e cagar.
Pensar não é só associar imagens memorizadas. Há os raciocínios abstractos, lógicos (dedutivos e indutivos) e matemáticos, por exemplo, que não poderiam existir sem a linguagem.
Como é evidente, o mais verosímil é haver um hardware orgânico no homem, fruto da evolução, capaz de suportar o software da linguagem que tem de ser instalado, ou aprendido. E aqui entra a qualidade do softwareeventualmente apenas linguagem corporal, mas que pode ir até à eloquência do epistoleiro Zezito. Há detentores de software linguístico tão sofisticado que ninguém os leva presos, embora esporadicamente, um ou outro vá de cana—acontece aos melhores!
Inglês, francês, português, tetum, mandarim, ou awjila, são programas de software linguístico, naturalmente muito diferentes em qualidade. A cada um toca o que o destino quer.
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