segunda-feira, 1 de março de 2010

SEGUNDO PECADO CAPITAL


André Freire e José Manuel Leite Viegas, do Centro de Investigação e de Estudos de Sociologia do ISCTE, fizeram umas tantas perguntas a eleitores e eleitos. Tiraram algumas conclusões –poucas, se avaliarmos pelas notícias dos jornais – e delas destaco esta: no PS e CDS, o posicionamento dos eleitores coincide com o do partido, embora ligeiramente mais à direita; mas no, PSD, PCP e BE, os deputados estão mais à esquerda que os eleitores.
Quer isto dizer que os eleitores têm uma ideia deformada do que defende o partido da sua escolha. E, consequentemente, não votam naquilo que verdadeiramente querem. Em boa verdade, provavelmente nem sabem o que querem. A escolha no voto é determinada por razões clubistas, mais com o coração que com a cabeça.
Há dias, falando com algumas pessoas sobre os pecados capitais (tenho conversas elevadas!), lembrando que foram adoptados pela Igreja Católica a partir de normas laicas já existentes na sociedade romana, discutia-se qual era o mais frequente. Referia-se a luxúria, a gula, e coisas assim, e a inveja, nada. Pois, em minha opinião, é o mais frequente. Só que se exprime de forma sub-liminar em atitudes e opções. O mal dizer é frequentemente expressão de inveja em relação à vítima da crítica. A denúncia de injustiças é muitas vezes fruto da inveja que suscitam as situações de privilégio daí decorrentes – desfrutassem os denunciantes delas e as denúncias evaporar-se-iam. H.G. Wells dizia que a indignação moral é a inveja com um halo, o que sintetisa bem isto.
E, nas opções políticas, o mecanismo também existe. É-se de esquerda por muitas razões, a maior parte delas respeitáveis. Mas também se é de esquerda por inveja de quem é rico, para falar depressa e claramente. Em Portugal, diz o referido estudo, o eleitorado é alinhado à esquerda. Não tenho a mínima dúvida. E também não tenho dúvida que uma grande parte desse eleitorado é alinhado à esquerda pela mesquinha razão de ser propulsionada por inveja inconsciente.

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