segunda-feira, 10 de maio de 2010

FEZ A LEI NATURAL O SEU INIMIGO?

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A biosfera vive em permanente evolução desde a primeira célula. Partiu-se dela, ou pouco mais atrás, para chegar ao Homo sapiens, admitindo que este representa o vértice da pirâmide biológica - conceito longe de ser líquido - através de mutações repetidas e escrutínio contínuo da natureza, que eliminou as formas menos aptas para sobreviver. Foram protegidos os fortes e penalizados os fracos. Esta é a lei natural, contrária ao espírito do homem civilizado.
Citei há dias Ramalho Ortigão quando escreveu: O Direito portanto não só não é uma emanação da lei natural, mas é uma reacção contra essa lei. A natureza é o triunfo brutal decretado ao forte. A sociedade é a protecção consciente assegurada ao fraco. A criação funda a luta pela vida. A sociedade organiza o auxílio pela existência.
Mas não só o Direito é reacção contra a lei natural. Porventura mais evidente é a Medicina, ao combater a doença e a morte. A protecção de criaturas enfermas, especialmente quando sofrem de afecções com clara incidência familiar, prolongando a longevidade e aumentando a probabilidade de se reproduzirem, é remar contra o plano natural, ao não fixar na espécie, pela adaptação ao meio, os seres mais fortes, e ao não expulsar os seres inferiores, parafraseando ainda Ramalho.
Dá que pensar isto e acho que ultrapassa a nossa capacidade de compreensão. O ser pretensamente mais apto, fruto da lei natural, adquire através dela aptidão para a bloquear; e faz do exercício dessa aptidão pergaminhos civilizacionais seus.
Fez a natureza um inimigo? Não creio. Depois de 3,5 mil milhões de anos de história de vida na Terra, sempre no sentido do apuramento, não é fácil admitir que a natureza fez o seu Frankenstein.
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PS - Não há qualquer preocupação eugénica no exposto – apenas perplexidade. Fica a nota para evitar mal entendidos.
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