Charles Percy Snow, ou Sir Charles, ou ainda Lord Snow, mais conhecido simplesmente por C.P. Snow, é uma personalidade de relevo na cultura do Século passado. Começou a carreira como investigador no campo da Física, em Cambridge, até que inesperado insucesso com um trabalho sobre a síntese da vitamina A, publicado na revista "Nature", o fez mudar de rumo e dedicar-se àquilo que já vinha fazendo - cultivar as letras e escrever romances de sucesso.
Durante a II Guerra, e depois, desempenhou ainda lugares importantes no serviço público, tendo sido membro do governo britânico. Mas a notoriedade de C.P. Snow começou, sobretudo, a partir da palestra que proferiu no dia 7 de Maio de 1959, na Casa do Senado de Cambridge, a Rede Lecture, uma das mais importantes solenidades públicas anuais da cidade.
Foi nessa conferência que Snow esboçou o conceito que viria
a tornar-se clássico, da separação da cultura em dois ramos que se ignoram
mutuamente e a que chamou cultura literária e cultura científica. A imagem das
"Duas Culturas", continua a pairar nas artes, letras e ciências, 53
anos depois da Rede Lecture de 1959.
Num livro intitulado precisamente "As Duas
Culturas", que inclui a versão integral da conferência de Cambridge e
outros textos, escreve Snow o seguinte:
[...] A existência
da esmagadora maioria da humanidade foi sempre sórdida, brutal e curta. Nos
países pobres, assim continua a ser.
A disparidade entre
os ricos e os pobres não tem sido passada em silêncio. E dela têm falado
insistentemente, sobretudo como é natural, os pobres. Mas, justamente devido ao
facto de não ter sido passada em silêncio, trata-se de uma disparidade que não
durará sempre. Seja o que for que sobreviva do mundo que hoje conhecemos no ano
2000, nesse plano as coisas serão diferentes. Uma vez que o processo que
permite enriquecer se tornou conhecido, como hoje acontece, o mundo não pode
sobreviver numa metade de ricos e numa metade de pobres. É impossível.
[...]
E, mais adiante, acrescenta:
[...] Os seres humanos já não estão em condições de esperarem pelo que virá
depois de períodos que excedam a vida de
um indivíduo. [...]
Estamos em 2012 e, relendo Snow, temos a sensação que o
homem era iluminado. Tal e qual! A Índia entrou no banquete do planeta, a China
também, e o Brasil e a Rússia idem aspas - por enquanto...: outros virão a seguir. Snow falou quando eu
tinha 20 anos, ainda estou vivo e as coisas são o que se vê: China rica, Brasil
rico, Índia e Rússia a caminho e Europa e Estados Unidos a endividarem-se e a
arruinarem-se para manter um status
claramente acima das suas possibilidades.
Fome na Europa e nos Estados Unidos? Claramente, não. Mas
apertar o cinto, de certeza. Mesmo aqueles que agora aceleram a degradação para
encherem os bolsos de dinheirinho. Fá-lo-ão só até ao dia em que verificarem que dinheiro é papel e não se pode comer.
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