sábado, 7 de julho de 2012

PAPAGAIOS E JORNALISTAS

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Já me tenho referido àquilo que chamo papagaios da comunicação social, debitando acriticamente teorias e ideias ditas modernas e progressistas, politicamente correctas, qual criança em festa da escola a recitar a Balada da Neve de Augusto Gil. É coisa que nos deixa nauseados, embrutece o povo e empurra a Nação para nova e moderna forma de obscurantismo. Fiquei, por isso,  sobressaltado quando, ao ler o livro de Soljenitsyne " O Declínio da Coragem", escrito já nos Estados Unidos mas ainda em vida da defunta União Soviética, encontro referência clara à figura do papagaio da comunicação social. O texto é mais longo, mas o transcrito a seguir chega para perceber do que falo. Escreve Soljenitsyne:

[...] A liberdade sem travões é unicamente para a imprensa e não para os seus leitores. Uma opinião só será apresentada com um pouco de relevo e ressonância se não estiver em grande contradição com as ideias do jornal e com a tendência geral da imprensa.
O Ocidente, que não tem censura, procede contudo a selecção minuciosa, separando as ideias que estão na moda das que não estão -  e, se bem que estas não se encontrem sob qualquer interdição, não se podem exprimir verdadeiramente na imprensa, em livros, ou no ensino universitário.  O espírito dos vossos investigadores, juridicamente, é perfeitamente livre mas a moda assedia-o de todos os lados. Sem que haja, como no Leste, uma violência aberta, esta selecção efectuada pela moda, e esta necessidade de tudo conformar a modelos estandardizados, impedem que os pensadores mais originais dêem a sua contribuição à vida pública e provocam o aparecimento dum perigoso espírito gregário que obsta a um desenvolvimento digno desse nome.[...]

Quando escreveu isto, Soljenitsyne tinha acabado de se libertar dum regime que sufocava o espírito dos cidadãos. Estava na América, onde o contraste era flagrante. Não obstante, sentia no ar um cheirinho à mesma coisa, com resultado parecido. Em minha opinião, em Portugal, no Anno Domini 2012, não há esse cheirinho porque o que há é fedor.
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