Já me tenho referido àquilo que chamo papagaios da comunicação social, debitando acriticamente teorias e ideias ditas modernas e progressistas, politicamente correctas, qual criança em festa da escola a recitar a Balada da Neve de Augusto Gil. É coisa que nos deixa nauseados, embrutece o povo e empurra a Nação para nova e moderna forma de obscurantismo. Fiquei, por isso, sobressaltado quando, ao ler o livro de Soljenitsyne " O Declínio da Coragem", escrito já nos Estados Unidos mas ainda em vida da defunta União Soviética, encontro referência clara à figura do papagaio da comunicação social. O texto é mais longo, mas o transcrito a seguir chega para perceber do que falo. Escreve Soljenitsyne:
[...] A liberdade sem
travões é unicamente para a imprensa e não para os seus leitores. Uma opinião
só será apresentada com um pouco de relevo e ressonância se não estiver em
grande contradição com as ideias do jornal e com a tendência geral da imprensa.
O Ocidente, que não
tem censura, procede contudo a selecção minuciosa, separando as ideias que
estão na moda das que não estão - e, se
bem que estas não se encontrem sob qualquer interdição, não se podem exprimir
verdadeiramente na imprensa, em livros, ou no ensino universitário. O espírito dos vossos investigadores, juridicamente,
é perfeitamente livre mas a moda assedia-o de todos os lados. Sem que haja,
como no Leste, uma violência aberta, esta selecção efectuada pela moda, e esta
necessidade de tudo conformar a modelos estandardizados, impedem que os
pensadores mais originais dêem a sua contribuição à vida pública e provocam o
aparecimento dum perigoso espírito gregário que obsta a um desenvolvimento
digno desse nome.[...]
Quando escreveu isto, Soljenitsyne tinha acabado de se
libertar dum regime que sufocava o espírito dos cidadãos. Estava na América,
onde o contraste era flagrante. Não obstante, sentia no ar um cheirinho à mesma
coisa, com resultado parecido. Em minha opinião, em Portugal, no Anno Domini 2012, não há esse
cheirinho porque o que há é fedor.
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