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Luís XIV, o Rei-Sol, jantava sozinho em Versalhes, em 1700, e escolhia o menu entre quarenta pratos servidos em bandejas de ouro e prata. Eram necessárias 498 pessoas para preparar e servir cada jantar.
O pão que comemos hoje resulta do cruzamento de cereais inventado por um caçador-recolector da Mesopotâmia neolítica e é cozido de forma concebida por outro caçador-recolector mesolítico. Mas a técnica do fabrico mudou muito. Ao contrário de Luís XIV, não temos 498 criados, mas trabalham ou trabalharam para nós e foram nossos criados homens ilustres e sábios, capazes de desenvolver o fabrico industrial do pão, desde a produção dos cereais, até às máquinas para a sua confecção, além dos que organizaram os circuitos de distribuição e comercialização.
No tempo do Rei-Sol, trabalhavam centenas para um homem. Agora trabalham centenas para muitos milhares. A cooperação permite que menor força de trabalho produza muito maior quantidade. E o que se diz do pão, aplica-se a todos os bens.
Contudo, cada elemento da engrenagem tem uma tarefa monótona, ou seja, só faz uma coisa, sempre a mesma. Sem ir até à imagem de Chaplin a apertar porcas no filme "Tempos Modernos" (vídeo em cima), o barbeiro só corta cabelos, o electricista só lida com circuitos eléctricos, o advogado só assiste cidadãos com dificuldades perante a lei, o taxista só transporta passageiros e por aí fora. O trabalho é entediante e repetitivo. O lema é consumo diversificado, produção simplificada—eficiente, mas estupidificante.
O caçador-recolector fazia muitas coisas, desde a habitação, ao vestuário, alimentação, ferramentas, distracções, etc., mas produzia muito pouco. No nosso Século, o homem não faz quase nada e tem tudo, produzido colectivamente. É mais feliz? Quem sabe?
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