Em cima da minha secretária, enquanto escrevo, estão dois
artefactos mais ou menos do mesmo tamanho e forma: um deles é um rato sem fio;
o outro, um biface do Mesolítico, com meio milhão de anos. Ambos foram
concebidos para caberem na mão humana—para obedecer às limitações de serem
utilizados por seres humanos. No entanto são muito diferentes. Um é o resultado
complexo de várias substâncias, com um intrincado planeamento interno que
reflecte diversas áreas do conhecimento. O outro, uma só substância que
reflecte a mestria de um só indivíduo. As diferenças entre ambos mostram que a
experiência humana de hoje é muitíssimo diferente da experiência humana de há
meio milhão de anos. [...]
[...] Olhemos de novo para o biface e para o rato. Foram
ambos feitos pelo homem, mas um foi feito por uma só pessoa, enquanto o outro
foi feito por centenas de pessoas, senão mesmo milhões. É a isso que me refiro
quando falo de inteligência colectiva. A pessoa que o montou, na fábrica, não
sabia como perfurar o poço petrolífero que permitiu a produção do plástico e
vice-versa. A determinada altura a inteligência humana tornou-se colectiva como
não aconteceu com qualquer outro animal. [...]
Matt Ridley in "O Optimista Racional"
Matt Ridley é um jornalista inglês, membro conservador da
Câmara dos Lordes, autor de vários livros de ciência, o último dos quais
intitulado "O Optimista Racional" de onde se transcreveram as
passagens em cima. Ridley já vendeu mais de meio milhão de cópias dos seus
livros, traduzidos em mais de 25 línguas. Aconselho vivamente.
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