Hoje, tomei conhecimento, através da crónica do professor
Carlos Fiolhais no "Público", da publicação no "Diário da República"
duma portaria, com assinaturas do Secretário de Estado Adjunto do Ministro
da Saúde e do Secretário de Estado do Ensino Superior, que confere legitimidade
terapêutica à homeopatia. O primeiro governante é médico, acho que
hematologista clínico, o segundo é engenheiro químico-industrial, e a
homeopatia é uma trampa charlatanesca, para usar um adjectivo brasileiro
apropriado à matéria.
É difícil explicar o que é a homeopatia pela mesma razão que
é difícil explicar o nada. São ideias filosóficas vazias, cuja
existência se limita às palavras que gastam—não há conceito por trás.
A homeopatia assenta na crença ou fé—não é mais do que isso—de
que as moléculas deixam na água uma pegada resistente à diluição
até limites impensáveis. Chamam a isso memória da água, que permite usar em
terapêutica substâncias tóxicas cujo efeito deletério será anulado pela
diluição, persistindo—por razões que só Deus sabe—a putativa acção curativa.
Em
1988, o professor francês Jacques Benveniste publicou na conceituada revista
científica "Nature" um artigo onde descrevia o efeito de uma substância
qualquer sobre glóbulos brancos do sangue depois de diluições sucessivas até ao
impensável, equivalente a várias piscinas olímpicas. Ninguém conseguiu
reproduzir tal fenómeno e veio a verificar-se que havia batota na manipulação
dos produtos no laboratório de Benveniste—um fiasco.
Mas a homeopatia é como o comunismo, a astrologia e o XIX Governo Constitucional—resiste a
tudo. Em França, está bem e recomenda-se, a avaliar pelo número de
"farmácias" de produtos homeopáticos. E em Portugal acaba de ter
reconhecida a sua legitimidade terapêutica por gente do Governo com formação científica. Óh égua!...
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