[...] Com o aumento dos
chamados católicos não praticantes, a sedução exercida, em vários países, sobre
as camadas populares pelas igrejas e seitas pentecostais e uma moral familiar
sufocada pelo irrealismo, com os meios de comunicação social cheios de
narrativas de eclesiásticos pedófilos e de escândalos financeiros do Banco do
Vaticano, tornara-se evidente que as lideranças de João Paulo II e de Bento
XVI, por acção e omissão, desbarataram o crédito do Vaticano II, mesmo quando o
invocavam. O papa Ratzinger teve o bom senso eclesial de se demitir. [...]
[...] Surge
M. Bergoglio, com nítida vontade de não se adaptar ao império idolátrico do
dinheiro, aos seus interesses e ambientes—dentro e fora da Igreja—, nem às
seduções do fausto e do carreirismo eclesiásticos, dentro e fora do Vaticano.
Escolhe, por isso, o nome e o paradigma de um clássico desadaptado ao mundo dos
negócios, preocupado apenas em seguir Cristo pobre no meio dos pobres, sem
ressentimento, respirando uma incansável poética da realidade de Deus e da
natureza. Chama-se Francisco de Assis.
Os gestos, as atitudes e o
programa deste Papa (Alegria do Evangelho) revelaram-se completamente dissonantes com os
costumes inveterados da Cúria vaticana, das cúrias diocesanas, das burocracias
paroquiais e com os tiques do catolicismo convencional. Esse não era o mundo de
Cristo, manso e humilde de coração para com todos os aflitos e oprimidos, mas
implacável perante os responsáveis pelas periferias sociais, culturais e
religiosas do seu tempo. Bergoglio vê o mundo económico, social, político e
religioso com o olhar do Evangelho e quer que a Igreja não se adapte a uma
religião e a uma economia que matam. [...]
Frei Bento Domingues in "Público" (11-01-2015)
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