terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O VIÉS REPUBLICANO

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Imagine que lê num jornal o seguinte título: "O milho geneticamente modificado pode causar o cancro". E suponha que no estudo do artigo se chega à conclusão que a diferença entre o milho geneticamente modificado e o milho natural, no que respeita à causa do cancro, não é significativa. Isto é, noutro estudo igual, feito numa população diferente, os números podiam ser ao contrário. A pergunta é: quantas pessoas se apercebem que o artigo pode ser bom, mas o título é lixo? Muito poucas, digo-lhe eu. A ideia da acção cancerígena do milho modificado infiltra-se no encéfalo e fica—e é isso que se pretende.
O que digo não é inventado—há estudos que o comprovam. No jornalismo, por exemplo, o primeiro critério para escolher um título é avaliar qual o que leva mais gente a ler a peça e não aquele que sintetiza melhor o conteúdo. É a velha história do homem que mordeu o cão. Por isso, as saídas do Dr. Soares são tão bem-vindas pelos jornais porque cada asneira que diz faz um título. Só depois vem, numa hipótese optimista, o propósito—secundário!—de informar correctamente. Por vezes a informação também é enviesada, como o título, dependendo isso da honestidade intelectual do jornalista.
Serve este arrazoado de 200 palavras para explicar o título de que ontem aqui se falava, a respeito da manifestação de repúdio do terrorismo em Paris, no Domingo passado, que rezava assim: «Milhares na rua em véspera da grande "marcha republicana"»
É claro que a marcha podia mesmo ser maioritariamente republicana, mas não era só. E tal título, que subestima milhares de pessoas que não estavam lá na qualidade de republicanos, mas de cidadãos revoltados contra o terror, é claramente uma manobra enviesada de republicanos imbecis para se promoverem, só comparável a esse estribilho da ética republicana que seria apenas ridículo, se não fosse uma mentira. Repúblicas e republicanos corruptos e vigaristas é o que mais há.
A carne é fraca e os republicanos fazem exactamente o mesmo que os outros. Somos todos iguais, dizem eles e é bem verdade—incluindo na ética, ou falta dela.
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