O pé do antepassado do homem servia preferencialmente para trepar às árvores. Não eram só as características do dedo grande, mas toda a configuração do esqueleto estava vocacionada para tal. Era o pé de um ser que se deslocava na floresta, muito na vertical e pouco na horizontal.
O primeiro pé típico de bípede, servia para pouco mais que a postura erecta e para andar. O desaparecimento parcial da floresta em África deu origem à savana, onde os nossos antepassados começaram a caçar, correndo atrás das presas. Embora corredores lentos, em comparação com a generalidade das presas, levavam a melhor porque, sem pêlo, conseguiam correr mais tempo até ter a caça completamente exausta pelo calor. Isso condicionou a evolução do pé para permitir a corrida lenta, mas prolongada. A corrida de fundo é, portanto, própria do homem; a corrida em velocidade é contra naturam.
Esse ser, naturalmente, corria descalço. E o corredor descalço, ao terminar cada passada, cai sobre a parte anterior do pé e amortece com a articulação do tornozelo o impacto, antes de este atingir o calcanhar. Assim acontece ainda hoje com os corredores de fundo africanos que correm descalços.
Com os sapatos de corrida actuais, as coisas modificaram-se. Têm calcanhares muito largos, que amortecem o impacto da passada, e os atletas caem directamente sobre o calcanhar. Os corredores calçados sofrem um único impacto no pé - transmitido ao resto do corpo - três vezes superior ao dos corredores descalços. As sequelas são mais complicadas nos primeiros, como se compreende.
Abebe Bikila, da Etiópia, ganhou a Maratona dos Jogos Olímpicos de 1960 em tempo recorde a correr descalço. Depois de dois milhões de anos a correr descalço, o homem está literalmente a dar os primeiros passos na aprendizagem da corrida com sapatos.
Quem o diz é o Professor Daniel Lieberman, da Universidade de Harvard, ele próprio um corredor, num artigo publicado na revista Nature.
domingo, 31 de janeiro de 2010
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