quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

UM CONTO PROIBIDO




[...] Contudo, se é evidente para muitos, mesmo muitos socialistas, que foi o discurso de Zenha que desencadeou a ruptura com o PC, não é ainda claro para a grande maioria que a mudança de Mário Soares só teria lugar após os incidentes do 1.º de Maio, no estádio com o mesmo nome. Foi a sua “vaidade” ferida, ao não o deixarem entrar na tribuna daquele estádio, impedindo-o de estar ao lado de Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Álvaro Cunhal, para onde este se dirigira, que precipitou a sua ruptura com o PC. Até então, como comprova todo o seu comportamento até àquela data, Henry Kissinger tinha razão em o considerar o “Kerensky” português. Durante os últimos doze meses alimentara esperanças em relação ao Programa Comum com o PC, que só não se concretizara porque os comunistas não o quiseram a seu lado. “A falta deve-se exclusivamente aos comunistas” (1).
Se não tivesse ocorrido tal incidente e Soares, despeitado, não passasse também ao ataque, que viria a ter como pano de fundo o conhecido slogan – “Soares e Zenha não há quem os detenha” – é provável que ainda em 1975 tivesse ocorrido uma cisão no seio do próprio Partido Socialista, com o afastamento do secretário-geral. A tal não acontecer, dada a lealdade demonstrada por Salgado Zenha, o resultado teria sido, pelo menos, a transferência do apoio americano para Sá Carneiro, que atrairia a si grande parte do movimento socialista. E, por essa via, o reconhecimento do seu partido pela Internacional Socialista.
[...]

(1) Mário Soares, Que Revolução? p. 93

O texto transcrito está na página 83 do misterioso livro de Rui Mateus intitulado Contos Proibidos – Memórias de um PS Desconhecido, que se volatilizou como por magia: Viva a ética republicana e a liberdade de expressão!

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