segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

QUANDO A PALAVRA É DE OURO

Barak Obama é um homem de excepcional inteligência. Parece ser uma boa alma. Agrada ao pessoal da esquerda, o que não é bom nem mau, mas é suspeito. Não sei se é grande político porque, nesta fase do mandato, só o Comité Nobel norueguês sabe (!...). Mas de uma coisa estou certo: é um orador de se lhe tirar o chapéu, com retórica brilhante.
O mundo não se governa com conversa; e falas bonitas podem pôr no poder uma cavalgadura. Não estou a dizer ser esse o caso. Estou só a afirmar que espero obras. Até agora, tivemos a reforma da saúde, o que já foi muito. Venham mais. Entretanto, desfrutemos a sua retórica. Um dos discursos mais inspirados foi o da recepção do Prémio Nobel. Traduzo, em baixo, um excerto. As ideias são as que lá estão, mas o brilho foi borrado com a tradução. Peço desculpa, mas não me chamo Eça, nem Pessoa.
Quem quiser saborear o original, pode fazê-lo clicando neste link.



[...] Mas, talvez, a matéria mais importante quanto a receber este prémio resida no facto de ser o Comandante-Chefe de uma nação envolvida em duas guerras. Uma delas está em declínio. A outra é um conflito que a América não procurou; em que estamos juntos com quarenta e três outros países – incluindo a Noruega – num esforço para nos defendermos a nós e todas as nações de novos ataques.
Mas estamos em guerra, e sou responsável pelo envio de milhares de jovens americanos para a batalha em terras longínquas. Alguns matarão. Outros serão mortos. E, por isso, venho aqui com o apurado sentido do custo dos conflitos armados – e enfrentando questões difíceis sobre a relação entre a guerra e a paz, e o esforço para substituir uma pela outra.
Tais questões não são novas. A guerra, de uma forma ou de outra, apareceu com o primeiro homem. Nos primórdios da História, a sua moralidade não foi contestada; era simplesmente um facto, como as secas e a doença – a maneira como as tribos, e depois as civilizações, procuravam o poder e resolviam os diferendos.
Ao longo dos tempos, tal como os códigos da lei procuraram controlar a violência nos grupos, também os filósofos, os clérigos e os estadistas tentaram regular o poder destrutivo da guerra. Emergiu o conceito de “guerra justa”, sugerindo que é justificada só quando preenche certas condições: se é travada como último recurso, ou em auto-defesa; se a força usada é proporcional ao objectivo e se, sempre que possível, os civis forem poupados à violência.
Na maior parte da História, este conceito de “guerra justa” raramente foi observado. A capacidade do ser humano imaginar novas maneiras de matar o próximo mostrou-se ilimitada, tal como a incapacidade de usar de misericórdia com os que parecem diferentes, ou rezam a outro Deus. As guerras entre exércitos deram lugar a guerras entre nações – guerras totais, nas quais a distinção entre combatentes e civis deixou de ser nítida. No período de trinta anos, a carnificina envolveu duas vezes este continente. E, embora seja difícil conceber causa mais justa que derrotar o Terceiro Reich e as potências do Eixo, a II Guerra Mundial foi um conflito em que o número total de civis mortos foi superior ao dos soldados que morreram.
[...]



Imagine-se isto escrito em português, com o brilho de Obama e dito por ele. Teríamos uma bela peça. Há momentos em que não há pachorra para essa coisa de Babel!

Sem comentários:

Enviar um comentário